quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Píppi Meialonga - Astrid Lindgren




Píppi Meialonga é uma menina diferente e, principalmente, independente, cheia de atitudes e ideias que costumam chacoalhar alguns pensamentos não muito acostumados a sair do lugar.

Para alguns, ela pode até assustar à primeira vista - mas quem não fica um pouco intrigado com o que vê pela primeira vez? Afinal, Píppi é uma criança, mas veio morar sozinha na Vila Vilekula, tem um macaco como companheiro permanente, o Sr. Nilson, e um cavalo que mora na sua varanda, além de ser uma garota muito, mas muito forte mesmo.

Essa famosa personagem da literatura infantil mundial, criada pela Astrid Lindgren lá nos idos de 1945, continua (e como continua) extremamente atual e instigante. Por quê? Principalmente pelo inusitado, pelo bom humor e por questionar lugares comuns meio bolorentos. É o que acontece, por exemplo, quando os policiais são chamados para tentar levar a garota para um lar de crianças:
"[...] Depois acrescentaram que algumas pessoas bondosas da cidade estavam tomando providências para conseguir uma vaga para ela num lar de crianças.
- Já tenho minha vaga num lar de crianças - disse Píppi.
- Como assim? A questão já foi resolvida? - perguntou um dos policiais. - Onde fica esse lar de crianças?
- Bem aqui! - disse Píppi, orgulhosa. - Eu sou uma criança, e este é meu lar, portanto este é um lar de criança. E aqui tem vaga de sobra pra mim. [...]
- É, mas você não entende que tem de ir à escola? - insistiu o policial.
- E por que tenho de ir à escola?
- Para aprender as coisas, óbvio!
- Que tipo de coisas?
- Todos os tipos de coisas - disse o policial -, um montão de coisas úteis. A tabuada, por exemplo.
- Faz nove anos que vivo muito bem sem tamburada - disse Píppi - E não vejo nenhuma razão para não continuar assim. [...]" (p.38-39)
E mais adiante, quando o policial pergunta se ela não vai ficar com vergonha se alguém lhe perguntar qual é a capital de Portugal e ela não souber responder:
" - É, mas você não acha que ia ficar chateada por não saber?
- Pode até ser - disse Píppi - Com certeza eu ia ficar noites e noites acordada pensando: 'Como é mesmo que se chama a capital de Portugal?'. Mas a pessoa não pode passar o tempo todo se divertindo - disse, e para variar um pouco trocou de posição e começou a se equilibrar nas mãos em vez de ficar em pé. - Aliás, já estive em Lisboa com meu pai - continuou, ainda de cabeça para baixo, pois também conseguia falar nessa posição." (p. 39)
Conheci os livros da Píppi faz pouco tempo e um dos aspectos que me agradou foi que, na maior parte do tempo, as perguntas por quê? como? isso poderia ser diferente? foram encaminhando o pensamento durante a leitura.

Em sua narrativa fluente, cheia de encanto e alegria, Astrid nos faz acompanhar as várias aventuras de Píppi,  e seus amigos Tom e Aninha que acabam aprendendo com ela a brincar de verdade. A personagem acaba mostrando a outras crianças um forte senso de justiça e, aos adultos, que não são sempre eles que sabem tudo - todos precisam suspeitar de suas certezas. Além disso, Píppi é uma figurinha muito simpática e bastante aberta a questionar a si mesma:
" - De onde você tirou que eu nunca estive no Egito? Pois estive! Fique sabendo que eu já estive em todos os lugares do mundo e já vi muitas coisas bem mais estranhas do que pessoas andando de costas [...]
- É tudo mentira sua - disse Tom.
Píppi pensou um pouco.
- É você tem razão. É mentira - disse ela, chateada.
- É feio mentir - disse Aninha, que finalmente tinha criado coragem de abrir a boca.
- É mesmo, é muito feito mentir - disse Píppi, ainda mais triste. - Mas de vez em quando eu esqueço, entende? E você acha mesmo que uma menina que tem uma mãe que é um anjo e um pai que é rei dos canibais, uma menina que passou a vida inteira navegando mar afora, tem de ficar o tempo todo dizendo a verdade? E aliás... - [...]" (p.15-16)
Um destaque da edição da Companhia das Letrinhas são as ilustrações do Michael Chesworth, ilustrador americano também responsável pelas imagens de Píppi nos Mares do Sul e Píppi a Bordo. As imagens são tão divertidas e instigantes quanto o texto.

Mas o principal - este livro nos proporciona um grande prazer - é muito divertido viajar pelo mundo da Píppi Meialonga!


Mais alguns dados da obra:

Autora: Astrid Lindgren (1907-2002)
Título original: Pippi Långstrump (1945)
Tradução do sueco por: Maria de Macedo
Ilustrações: Michael Chesworth (site - http://www.crashbangboom.com/)
Edição: Companhia das Letrinhas, São Paulo, 2001, 156 p.

E mais algumas informações sobre a Píppi e sua criadora:

- Uma entrevista com a Astrid Lindgren (em inglês) está disponível no site Astrid Lindgren´s World;
- As peripécias da menina de tranças esticadas ganharam uma série para a TV em 1969 e adaptações para o teatro;
- A autora tem por volta de 80 livros publicados traduzidos para diversas línguas;
- No Brasil, além de Píppi Meialonga, foram traduzidos: Píppi a Bordo e Píppi nos Mares do Sul.
- Aqui no blog já comentamos também sobre Os irmãos coração de leão.