quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Das preciosidades da grande rede (1) - Palavras


Taí... resolvi criar uma série com o título acima para compartilhar algumas descobertas na grande rede que, vira e mexe, me surpreendem muito. Como não ficar contente ao encontrar, com a simplicidade de uma busca, de um clique, imagens e palavras tão bonitas quanto as que aparecem nesse vídeo?



É Paulo José declamando o poema José de Carlos Drummond de Andrade no programa Palavras que estreou no Canal Futura no último dia 22 de janeiro.

O programa compõe-se de 8 episódios e todos estão disponíveis na rede (no link do programa) para ouvidos, olhos e sensibilidades atentas - é só se deixar levar...

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O mistério de Picasso (Le mystère Picasso) - Henri Clouzot


Um assunto, uma hora ou outra, acaba se ligando a outros... Desta vez, a ligação foi rápida e se deu quando um belo presente chegou às minhas mãos, logo depois de ter visitado a exposição Portinari no Masp - o DVD do filme O mistério de Picasso, dirigido por Henri Clouzot, com fotografia de Claude Renoir.

Trata-se de um documentário primoroso feito com Picasso em 1955. No filme, vemos o pintor em plena ação. Enquanto um artista cria seus desenhos e pinturas (em uma tela especial), outro artista registra o que se vai passando.

É muito interessante observar o processo de criação das telas - o pintor algumas vezes inicia com traços mais próximos do realismo e vai desconstruindo tudo, buscando novas soluções, entre traços, cores que nos surpreendem - se apagando, se sobrepondo (um exemplo aqui). É curiosa a sensação de, por vezes, acharmos que o artista deveria ter parado em determinado ponto (pensando que, parando por ali, já teríamos uma bela tela). Mas não - ele continua, experimenta, busca caminhos que fogem do padrão. Em alguns momentos, revela mesmo que não está gostando de alguns resultados.

Podemos acompanhar a criação de 20 telas que, pelo contrato firmado, foram destruídas assim que o filme foi concluído.

Para quem gosta de cinema e artes plásticas, este DVD é uma conjugação magnífica.

Ficha técnica do DVD:
Título Original: Le mystère Picasso
Com: Pablo Picasso
Direção: Henri-Georges Clouzot
Fotografia: Claude Renoir
Produção: França - 1956
Distribuição: Magnus Opus

Mais informações sobre o filme no IMDB.
O DVD conta ainda com um bônus bastante interessante: o Curta "Guernica" (1950, 13min.) de Alain Resnais.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Portinari no Masp - Séries Bíblica e Retirantes


Sábado, 17 de janeiro, um dia nublado e não muito quente em São Paulo.

Atraída pela mostra de Candido Portinari (1903-1962), fui visitar mais uma vez o Museu de Arte de São Paulo - MASP. Lá estão em exposição onze telas das séries Bíblica (8) e Retirantes (3) desse expressivo pintor brasileiro.

As telas estão no subsolo - e o impacto é forte - já podemos vê-las ao descer as escadas. São telas grandes por volta de 1,80 a 2,00 metros. Como o meu conhecimento sobre arte não é profundo, vou comentar algumas delas levando em conta as impressões que tive ao olhá-las, ao admirá-las de perto, de longe, por bastante tempo.

As imagens da série Bíblica foram feitas em têmpera - tons de cinza, cinzas azulados, com fortes influências de Picasso, como o próprio pintor deixou registrado. São todas impressionantes pela força, pela emoção que transmitem. Duas chamaram-me mais a atenção:

Em A Ressurreição de Lázaro (154 X 301 cm, 1944), vemos duas imagens em primeiro plano: Lázaro ainda com a mortalha no rosto, ajoelhado, em posição de quem vai se levantando; e uma mulher, mãos postas, chorando. Ao fundo, uma outra mulher, assustada. As mãos e os pés imensos reforçam a dramaticidade do momento. Tons de cinza azulado, recortes de luz diagonais, poucos toques de vermelho nas unhas, ressaltam as posições e a expressividade das imagens. A sensação é de que algo assombroso está realmente se passando - na tela, conosco.

Em O pranto de Jeremias (189 X 179 cm, 1944), os olhos da imagem prendem os nossos - grossas lágrimas, volumosas, parecendo pedregulhos, rolam pela face de Jeremias. Os detalhes estilizados da anatomia, de novo as mãos e pés imensos garantem o impacto e emoção, a sensação de lamentação da imagem.

Como já comentamos, é muito difícil tentar, com palavras, descrever o que se vê... quase impossível talvez...

Da série Retirantes, as três telas que estão na mostra: Retirantes, Criança Morta e Enterro na Rede já as tinha visto em reproduções. Mas as reproduções não conseguem mostrar, não conseguem transmitir a arte que realmente está no original: a luminosidade, a força das cores, a textura, as dimensões, tudo isso se perde. Ver os originais é algo incrível.

A tela Retirantes (1944), por exemplo. Mede 192 X 181 cm e foi pintada a óleo. As cores são vibrantes, o contraste que Portinari conseguiu imprimir nas imagens faz com que os personagens pareçam ganhar volume contra o cenário desolado. São azuis, verdes, rosas, vermelhos combinados. O que impressionou bastante nessa tela foi o bebê no colo da mãe esquálida, as dobras do pano que o envolve parecendo as magras costelas da mãe.

Com bem diz Drummond,

"Candinho vem sorrindo, calça azul, sapatos roxos ou verdes, camisa branca de meia manga, e diz: 'Ah, é Drummond'. A sala abre-se ao fim do pequeno corredor. De lá vêm luzes e vozes. Paro à entrada, atordoado. Cores e formas se propõem subitamente, com violência à minha percepção. São figuras que se espalham pelas paredes [...]" ("Estive em casa de Candinho", In: Confissões de Minas, Carlos Drummond de Andrade. Poesia e Prosa, p. 1354).




Para ter uma ideia dessas telas de Portinari, é só acessar a página do Masp, clicando aqui. Mais algumas imagens de outras obras do pintor aqui.

Portinari nasceu em Brodósqui (Brodowski), cidade no interior de São Paulo. Lá existe hoje um museu com utensílios, desenhos e telas do pintor - A Casa de Portinari.

Atualização do post em 26 de março de 2010

Esta exposição que esteve no Masp o ano passado pode ser vista agora em um Tour Virtual disponível no site Universia - é só clicar aqui.

Masp - Exposições (janeiro / 2009)



Além das telas do Portinari (ver post acima), o Museu tinha outras mostras interessantes:

1) China - Construção e Desconstrução

Esta mostra apresenta obras de artistas contemporâneos chineses que vão de fotografias e quadros a instalações. Chamaram-me a atenção as telas de Xiong Yu, em especial a denominada Falcoeiro (pelas cores e expressividade dos olhos e distorções da anatomia); e as de Chen Bo.


2) Mostra Temática - série MASP 60 anos

Minha última visita ao acervo do Museu tinha sido em 2007, quando a mostra ainda estava organizada por períodos da história da arte. A nova organização ficou bastante interessante, principalmente para quem já tinha visto o acervo na estrutura anterior. Disposto no segundo andar do prédio, está assim distribuído agora:

- A arte do mito (esculturas, pinturas e objetos com temas ligados à mitologia) ;
- Olhar e ser visto (retratos e auto-retratos - ver mais aqui);
- Virtude e aparência - a caminho do moderno (mais informações aqui); e

- A natureza das coisas

Demorei mais tempo nessa parte da exposição - a disposição das naturezas-mortas, paisagens, marinas, próximas umas das outras, permitem perceber as mudanças de estilos, comparar as características dos artistas.

Em um dos corredores, há duas pinturas a óleo de Van Gogh - Passeio ao crepúsculo (1889-1890, 54 X 45,5cm) e O banco de pedra no asilo de Saint-Rémy (1889, 41 X 48 cm) - pintadas durante o período em que ficou internado em uma clínica. A expressividade dessas telas é surpreendente, completamente diferente de observarmos suas reproduções, aliás as reproduções são, como diz um amigo, como "passar leite no bigode do gato" - só dão mais vontade de ver os originais. As telas de Van Gogh impressionam pelas cores e pelas pinceladas, que parecem fazer com que as imagens ganhem movimento.

As dimensões, as cores, as texturas - tanto a ser visto, tanto a perceber sobre os caminhos que cada artista escolhe.

Um detalhe para quem for ao Museu: no final da visita, não esqueça de passar na livraria/loja que fica no subsolo, para pegar os panfletos das exposições A arte do mito e China Construção e Desconstrução.


quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Lembranças do Amarelo



Estiveram.
Não mais agora...




- Recordação -





Ipês na Universidade de São Paulo
Praça do Instituto Oceanográfico
Agosto / 2008

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Santô e os pais da aviação – Spacca



Com o subtítulo “A jornada de Santos-Dumont e de outros homens que queriam voar”, o álbum em quadrinhos do Spacca é fruto de uma rica pesquisa histórica que nos permite conhecer, de uma maneira muito prazerosa, os primórdios da aviação, acompanhando não só a trajetória do aviador brasileiro, mas apresentando também o que outras pessoas ao redor do mundo estavam criando na época.

A arte é ímpar – desde o roteiro até a arte final, passando pelos excelentes desenhos que transmitem muitas informações. É daquelas obras de agarrar e não querer largar até chegar ao final.

Um dos fatores que me chamam a atenção quando leio quadrinhos, principalmente os da envergadura desse trabalho, é a capacidade que a obra tem de captar nossa atenção. Isso acontece, por exemplo, quando, sem perceber, paramos em um quadrinho e ali ficamos... um bom tempo... olhando o desenho, pensando na história, no que ela transmite.

Entre tantos momentos em que isso ocorreu em Santô, destaco, para observação, a sequência da página 51, quando Sem (o caricaturista), conversando com Santos-Dumont, diz que este tem charme e o coloca no patamar de celebridade. A isso o nosso aviador rebate, afirmando, com um discurso técnico, que também sabe ser “desinteressante”. No penúltimo quadrinho dessa sequência, lê-se o que Sem aponta:
“Outros, ao contrário brilham eternamente, como os faróis e as estrelas. Brilhar é fundamental para sobreviver na cidade-luz...”
e no último quadrinho (o que chamou a atenção):

“Mas não se preocupe, Paris vai amá-lo. E esquecê-lo também... mas primeiro vai amá-lo.”

além do texto, o que entusiasmou foi o uso do efeito de contra-luz na imagem - nela vemos apenas a silhueta dos personagens. Imagem e texto muito bem integrados.
Outra cena interessante: o último quadro da página 111.
No texto:

“23 de outubro – Bagatelle. É quase meio-dia, e Santô já fez 9 tentativas, quebrou uma roda e perdeu uma pá da hélice. A comissão científica faz uma pausa para o almoço.”
Na imagem: 14 Bis bem ao fundo; na maior parte do quadro: um parque repleto de pessoas – vê-se de tudo - crianças brincando, mulheres conversando, animais, bicicletas, tudo com a ambientação da época. Se o aviador já tinha feito tantas tentativas, o restante das pessoas estava ali tranquilamente, num típico dia no parque.

Como já comentamos em outros posts sobre quadrinhos aqui no blog, o texto sozinho não diz tudo – é preciso atentar para as imagens, para a composição da cena e para a forma como o enredo é montado. Ou seja, no caso de Santô, o importante é mesmo pegar o livro nas mãos, olhar tudo, aventurando-se por ele.

O álbum conta ainda com: (i) um texto introdutório sobre o caricaturista Sem (Georges Goursat – 1863-1934) que acompanhou Santos-Dumont em algumas de suas peripécias; (ii) uma cronologia sobre o aviador brasileiro e outros pioneiros da aviação; (iii) uma bibliografia para quem quiser pesquisar mais sobre a matéria, incluindo sites da internet; e (iv) uma galeria com alguns esboços ( aqui uma crítica - é uma pena que só haja duas páginas! ).

Dentre as dicas de sites que constam da bibliografia, vale dar uma olhada no que contém desenhos do Hergé (o pai do Tintin) sobre o tema.


Outros dados da obra:
Título: Santô e os pais da aviação: a jornada de Santos-Dumont e de outros homens que queriam voar.
Autor: Spacca (Para conhecer mais sobre o Spacca e seu trabalho, visite o site dele, clicando aqui)
Ano da publicação: 2005
Edição lida: São Paulo: Companhia das Letras, 2006. 160 p.