segunda-feira, 23 de março de 2009

Os irmãos coração-de-leão - Astrid Lindgren (2 - o livro)



Os Irmãos Coração-de-Leão conta as aventuras do valente Jonas e do frágil Carlinhos. Tudo começa com o pequenino Carlos, adoentado, em sua casinha modesta, onde vive com a mãe, falando com muita admiração do seu irmão mais velho Jonas. Mas esse é um livro cheio de surpresas...
"Vou falar agora sobre o meu irmão. É sobre Jonas Coração-de-Leão, o meu irmão, que quero falar. Acho que o que tenho a contar se parece muito com uma saga e um pouquinho com uma história de almas do outro mundo. No entanto, é a pura verdade, embora Jonas e eu sejamos provavelmente as únicas pessoas do mundo a saber disso." (p. 7)
Pois bem... e a poucas páginas do início, já temos um baque grande... o que terá acontecido a Jonas? Mas é um susto passageiro, porque as aventuras dos irmãos correm além do tempo e do espaço, e vão realmente começar quando eles se reencontrarem em Nangaiala, uma terra com toques medievais onde se pode viver grandes sagas, grandes aventuras.

A delícia do livro está em acompanhar o nosso frágil Carlinhos, em suas duras experiências, que servirão para mostrar-lhe as armadilhas escondidas na falsidade das aparências e dos preconceitos e, ao mesmo tempo, que o farão descobrir o caminho da coragem, da amizade e da ternura. É um caminho árduo, duro, em uma terra que está sendo tiranizada pelo vilão Tengil e pela sombra de Katla. Mais um trechinho instigador:

"- Adeus, meu pequeno - disse Matias. - Não se esqueça do seu avô.
- Eu nunca o esquecerei! - retruquei.
Escorreguei então, sozinho, até a passagem subterrânea, e arrastei-me pelo longo túnel escuro, falando comigo mesmo todo o tempo para não ficar muito assustado.
- Não faz mal que esteja escuro como breu. Não, você não vai ficar sufocado, de modo algum. É verdade que um pouquinho de terra está caindo no seu pescoço, mas isso não significa que o túnel vai desabar, seu bobo! Não, Dodô, o gordo, não vai ver quando você sair do outro lado. Ele não pode ver no escuro, não é? De certo que Jonas está esperando por você. Ele está lá, ouviu? Ele está lá!" (p. 117)

Astrid Lindgren consegue criar uma estória repleta de personagens fascinantes que lutam contra a opressão sem perder a suavidade - é Sofia, frágil e forte, com suas pombas brancas; é Matias, o vovô-amigo que luta e protege os meninos; é Hugo, o arqueiro... Consegue nos encantar com Carlos, um personagem com quem nos identificamos, mesmo que não queiramos (mesmo que desejemos ser sempre Jonas, o bravo). Todos os personagens mudam, mas é Carlos o que passa pelas maiores transformações, evoluindo com suas experiências, conforme as aventuras se sucedem.

Esta é a terceira vez que leio Os irmãos coração-de-leão, e sei que o lerei muitas mais... Assim é a boa literatura para todas as idades, aquela que encanta, que dura no tempo... que nos leva a Nangaiala e ao Vale das Roseiras Silvestres, que por um instante nos faz acreditar em mundos melhores, que nos faz sentir o verdadeiro prazer da leitura.

Nessa edição, que foi garimpada pra trazer lembranças antigas, temos também as graciosas ilustrações de Ilon Wikland, que tanto enriquecem o texto.

Carlinhos chega na estalagem Galo Dourado
Ilustração de Ilon Wikland (p. 36-37)


Para conhecer mais pouco do trabalho dessa ilustradora, um vídeo que faz propaganda de um DVD mostra alguns de seus desenhos. Pena que a narração esteja em sueco e, dessa língua, infelizmente não entendo absolutamente nada... mas é possível apreciar as imagens (essa grande desbravadora das fronteiras linguísticas)!



Para saber mais sobre a excelente escritora que foi Astrid Lindgren, clique aqui (em português) ou aqui para mais informações (website oficial).

Mais alguns dados da obra:

Autora: Astrid Lindgren
Tradução do sueco por: Maria Aparecida Moraes Rego (esta foi considerada uma das 10 melhores traduções de textos infanto-juvenis feitas no Brasil no ano de 1984)
Ilustrações: Ilon Wikland
Título original: Bröderna Lejonhjarta
Editora: Nórdica
Rio de Janeiro, 2a. edição, 1986

Obs.: a aventura da releitura deste lindo livro começou aqui.

Os irmãos coração-de-leão - Astrid Lindgren (1 - o achado)


Sofia e suas pombas brancas
Ilustração de Ilon Wikland
In: Os irmãos coração-de-leão de Astrid Lindgren (p. 40)



Como chegamos a um livro, por que decidimos ler este e não outro naquele momento, quais impressões fluíram durante o ato de ler - estes são alguns pontos que fazem com que algumas leituras também tenham sua história. As releituras, às vezes, duas ou mais delas - a do passado, a do presente.

A história da releitura de Os irmãos coração-de-leão começa, como já aconteceu outras vezes, com um passeio pela livraria. Mais uma vez, na seção de infantis, encontrei uma edição nova do livro agora pela Companhia das Letrinhas. A história lida há muito tempo estalou na memória - um livro lindo - mas daqueles que a gente empresta e que acabam não voltando (ganharam outros rumos...). Em decisão rápida - pronto - comprei a edição nova.

Vontade de começar a ler logo! Mas... fato estranho, a leitura não batia com a leitura da memória, com as emoções do passado, onde estavam as belas ilustrações que havia antes? Por que essa sensação? Fiz mais duas tentativas e a leitura continuava a não fluir... o tradutor era outro (a partir da versão inglesa do texto e não do original sueco), a edição outra, as ilustrações outras. E então a dúvida - será que, lá dentro, uma memória afetiva com o livro do passado ficara gravada?

O jeito foi recorrer aos sebos (nesse caso, a providencial Estante Virtual) e, maravilha, lá estava uma edição antiga a um preço camarada - o livro antes tinha sido editado pela Nórdica e tinha as ilustrações de Ilon Wikland. Comprado, foi só esperar o livrinho chegar pelo correio e, que alegria, tê-lo nas mãos! Agora sim... só o fato de pegá-lo, folheá-lo, já despertou as boas sensações que estavam guardadas em algum lugar.

E que delícia reler as aventuras de Jonas e Carlos Coração-de-Leão!
Para saber mais sobre o livro e sobre essa releitura, é só clicar aqui.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Margaret Mee na Pinacoteca


No último sábado, calor extremo em São Paulo, nada como refrescar a mente indo à Pinacoteca do Estado para apreciar as aquarelas da inglesa Margaret Mee (1909-1988).

Logo ao entrarmos na sala da exposição, deparamo-nos com uma foto da artista pintando uma de suas célebres aquarelas. Na parede ao lado, emoldurada, a mesma obra finalizada em toda sua beleza - as flores com a floresta ao fundo.

Um reflexo captado antes de entrar na sala de exposição


Ali também, na parede, uma biografia resumida da vida dessa inglesa que, fascinada pela flora brasileira, registrou importantes espécies de flores e plantas do Amazonas, Mato Grosso, da Mata Atlântica, da caatinga.

O que salta aos olhos, no entanto, é que a artista vai além do registro - os quadros são belos, delicados - podemos ficar muito tempo apreciando cada raminho, cada detalhe das flores e folhas... observar as cores...

O gostoso é poder apreciar de pertinho cada pintura (as aquarelas estão protegidas em suas molduras envidraçadas que permitem que nos aproximemos de cada quadro), observar os detalhes das pinceladas, as manchas formadas para compor as pedras, os troncos em que se apóiam as flores - orquídeas, bromélias.

Também interessantíssimos alguns dos esboços da artista que ali estão - permitem investigar as soluções encontradas - do percurso do desenho, da escolha das cores até o resultado final.

A exposição conta ainda com um vídeo que apresenta uma entrevista feita com essa cativante dama inglesa. Confesso que me emocionei... uma pessoa que passa uma sensação de delicadeza aliada à força que realmente encantam, batalhadora que foi, defensora da preservação de nossas florestas.

Para atiçar a curiosidade, visitem o post do ilustrador Hiro sobre a artista, clicando aqui, e vejam também algumas amostras do trabalho de Margaret em vídeo encontrado no youtube (abaixo):





No Brasil, a instituição responsável pela preservação do legado da artista é a Fundação Botânica Margaret Mee.



Para quem gosta de aquarelas, ilustração botânica, arte, de se emocionar com o belo, aproveite para visitar a exposição que só fica na Pinacoteca de São Paulo até o dia 15 de março. Aos sábados a visita é gratuita.
Na internet, um pequeno vídeo mostra Margaret Mee pintando a flor da lua na floresta - disponível em Margaret Mee and the moonflower.