quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Píppi Meialonga - Astrid Lindgren




Píppi Meialonga é uma menina diferente e, principalmente, independente, cheia de atitudes e ideias que costumam chacoalhar alguns pensamentos não muito acostumados a sair do lugar.

Para alguns, ela pode até assustar à primeira vista - mas quem não fica um pouco intrigado com o que vê pela primeira vez? Afinal, Píppi é uma criança, mas veio morar sozinha na Vila Vilekula, tem um macaco como companheiro permanente, o Sr. Nilson, e um cavalo que mora na sua varanda, além de ser uma garota muito, mas muito forte mesmo.

Essa famosa personagem da literatura infantil mundial, criada pela Astrid Lindgren lá nos idos de 1945, continua (e como continua) extremamente atual e instigante. Por quê? Principalmente pelo inusitado, pelo bom humor e por questionar lugares comuns meio bolorentos. É o que acontece, por exemplo, quando os policiais são chamados para tentar levar a garota para um lar de crianças:
"[...] Depois acrescentaram que algumas pessoas bondosas da cidade estavam tomando providências para conseguir uma vaga para ela num lar de crianças.
- Já tenho minha vaga num lar de crianças - disse Píppi.
- Como assim? A questão já foi resolvida? - perguntou um dos policiais. - Onde fica esse lar de crianças?
- Bem aqui! - disse Píppi, orgulhosa. - Eu sou uma criança, e este é meu lar, portanto este é um lar de criança. E aqui tem vaga de sobra pra mim. [...]
- É, mas você não entende que tem de ir à escola? - insistiu o policial.
- E por que tenho de ir à escola?
- Para aprender as coisas, óbvio!
- Que tipo de coisas?
- Todos os tipos de coisas - disse o policial -, um montão de coisas úteis. A tabuada, por exemplo.
- Faz nove anos que vivo muito bem sem tamburada - disse Píppi - E não vejo nenhuma razão para não continuar assim. [...]" (p.38-39)
E mais adiante, quando o policial pergunta se ela não vai ficar com vergonha se alguém lhe perguntar qual é a capital de Portugal e ela não souber responder:
" - É, mas você não acha que ia ficar chateada por não saber?
- Pode até ser - disse Píppi - Com certeza eu ia ficar noites e noites acordada pensando: 'Como é mesmo que se chama a capital de Portugal?'. Mas a pessoa não pode passar o tempo todo se divertindo - disse, e para variar um pouco trocou de posição e começou a se equilibrar nas mãos em vez de ficar em pé. - Aliás, já estive em Lisboa com meu pai - continuou, ainda de cabeça para baixo, pois também conseguia falar nessa posição." (p. 39)
Conheci os livros da Píppi faz pouco tempo e um dos aspectos que me agradou foi que, na maior parte do tempo, as perguntas por quê? como? isso poderia ser diferente? foram encaminhando o pensamento durante a leitura.

Em sua narrativa fluente, cheia de encanto e alegria, Astrid nos faz acompanhar as várias aventuras de Píppi,  e seus amigos Tom e Aninha que acabam aprendendo com ela a brincar de verdade. A personagem acaba mostrando a outras crianças um forte senso de justiça e, aos adultos, que não são sempre eles que sabem tudo - todos precisam suspeitar de suas certezas. Além disso, Píppi é uma figurinha muito simpática e bastante aberta a questionar a si mesma:
" - De onde você tirou que eu nunca estive no Egito? Pois estive! Fique sabendo que eu já estive em todos os lugares do mundo e já vi muitas coisas bem mais estranhas do que pessoas andando de costas [...]
- É tudo mentira sua - disse Tom.
Píppi pensou um pouco.
- É você tem razão. É mentira - disse ela, chateada.
- É feio mentir - disse Aninha, que finalmente tinha criado coragem de abrir a boca.
- É mesmo, é muito feito mentir - disse Píppi, ainda mais triste. - Mas de vez em quando eu esqueço, entende? E você acha mesmo que uma menina que tem uma mãe que é um anjo e um pai que é rei dos canibais, uma menina que passou a vida inteira navegando mar afora, tem de ficar o tempo todo dizendo a verdade? E aliás... - [...]" (p.15-16)
Um destaque da edição da Companhia das Letrinhas são as ilustrações do Michael Chesworth, ilustrador americano também responsável pelas imagens de Píppi nos Mares do Sul e Píppi a Bordo. As imagens são tão divertidas e instigantes quanto o texto.

Mas o principal - este livro nos proporciona um grande prazer - é muito divertido viajar pelo mundo da Píppi Meialonga!


Mais alguns dados da obra:

Autora: Astrid Lindgren (1907-2002)
Título original: Pippi Långstrump (1945)
Tradução do sueco por: Maria de Macedo
Ilustrações: Michael Chesworth (site - http://www.crashbangboom.com/)
Edição: Companhia das Letrinhas, São Paulo, 2001, 156 p.

E mais algumas informações sobre a Píppi e sua criadora:

- Uma entrevista com a Astrid Lindgren (em inglês) está disponível no site Astrid Lindgren´s World;
- As peripécias da menina de tranças esticadas ganharam uma série para a TV em 1969 e adaptações para o teatro;
- A autora tem por volta de 80 livros publicados traduzidos para diversas línguas;
- No Brasil, além de Píppi Meialonga, foram traduzidos: Píppi a Bordo e Píppi nos Mares do Sul.
- Aqui no blog já comentamos também sobre Os irmãos coração de leão.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Aquarela (Estudos - 27) - Sombras coloridas



Aquarela sobre papel fabriano grana fina


Os estudos começaram a entrar em um campo que, para mim, ainda está cheio de mistérios.

Algumas importantes pistas foram dadas pelo mestre Cárcamo em nossa última aula do curso iniciado este ano. Ainda preciso estudar muito e, principalmente, enfrentar com mais coragem as pinturas ao ar livre e também os estudos com modelo vivo.

Ou seja, vou continuar a trilhar o caminho, mas agora também olhando o mundo de uma maneira diferente: um mundo em que as nossas sombras se revelam mais coloridas do que pensamos...

P.S.:
Se você gosta de aquarela e quer aprender mais sobre ela, assim que tiver oportunidade, não deixe de conferir os excelentes cursos com o Cárcamo!


quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Aquarela (Estudos - 26) - Espera...




Espera...


Aquarela (Estudos - 25) - Sobreviventes






Aquarelas sobre papel fabriano grana fina


Além de tentar pintar esses belos animais, a ideia desses estudos foi explorar os tons alaranjados e entender um pouco como eles funcionam. Também tentar compreender melhor brilhos, contrastes e volume...

Para a imagem do tigre, utilizei como base os vídeos que estão disponíveis no Reference! Reference!, um excelente acervo de imagens em vídeo, grátis, para estudiosos de animação e de artes.

domingo, 30 de outubro de 2011

Jardim Botânico de São Paulo


O Jardim Botânico de São Paulo é um lugar simplesmente encantador!

Vou deixar algumas imagens falarem por mim:








Há plantas, estufas, flores, quietude e pássaros muito generosos que posam para as fotos, além de continuar cantando (as corruíras aqui de perto de casa são bem mais tímidas e não haviam se deixado fotografar ainda!).

É um passeio para repetir sempre. Ah, mais informações sobre o Jardim Botânico, é só clicar aqui.


quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Aquarela (Estudos - 22) - Gatos




























Aquarelas sobre papel fabriano grana fina



Mais alguns estudos de síntese, pintando direto com a aquarela, sem usar desenho a lápis de base.
Exercícios muito gostosos de fazer!

domingo, 2 de outubro de 2011

Aquarela (Estudos - 21)



aquarela sobre papel fabriano grana fina


Tentar reproduzir a obra de grandes pintores e ilustradores é uma das boas formas de se aprender. Desde a primeira vez que assisti ao filme Miss Potter (devidamente revisto hoje), a aquarela do natal dos coelhos ficou marcada na minha memória. Também ficou marcada como uma ideia, quem sabe, de tentar pintar os seus lindos coelhos. Mas sempre, na hora de tentar, um friozinho na barriga fazia com que deixasse para depois.

Agora a coragem veio - o resultado está aí. Aprendi muito nessa tentativa, sobre luz, sombra, e descobri que ainda preciso aprender a dar o efeito de pelo que ela conseguia nas suas ilustrações. Para ver algumas das encantadoras ilustrações da Beatrix, dá um pulo ali no excelente blog Bibliodissey.





quinta-feira, 15 de setembro de 2011

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Aquarela (Estudos - 19) - Janelas





aquarela sobre papel fabriano grana fina


Agora os estudos são de luz e contrastes...
Também de sombras.

Um longo caminho a percorrer!



quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A Vaca Voadora - Edy Lima





Às vezes me pergunto como um livro se torna um clássico entre os leitores... um dos motivos é, certamente, sua atemporalidade. Um livro que pode ter sido lido há 30, 25, 15, 5 anos ou há alguns minutos e que continua tão prazeroso e encantador como sempre.

Minha primeira leitura de A Vaca Voadora aconteceu no final da década de 70, em uma edição do antigo Círculo do Livro, que li emprestada. Em uma época em que passávamos por dificuldades financeiras no país, não era tão fácil comprar os livros, ainda mais em uma família com muitas pessoas.

Na época, em minha leitura de criança, li de uma vez só, não só porque o livro não podia sair da casa dos primos, mas porque eu não podia ir embora sem saber como acabariam as aventuras de Lalau, Gumercindo, tia Quiquinha, tia Maricotinha e da encantadora Vaca que voava graças ao Elixir de Levitar! O texto envolvia pelas aventuras, pelo humor, pelo non-sense (palavra que só aprendi muito depois, é claro! rs), pelas ilustrações do Jayme Cortez. E pensando hoje lá na infância, também pelo despertar das indignações contra as injustiças.

Mas a edição do Círculo do Livro era ainda mais instigante, porque, se virássemos o livro ao contrário, tínhamos de brinde também A Vaca na Selva, continuação das aventuras daqueles personagens que já se faziam queridos. Para quem gosta de ler, a edição era uma preciosidade. Naquela época, dois livros em um? Esse foi um dos objetos que mais cobicei na infância/adolescência! Agora, muito tempo depois, comprei essa relíquia no sebo para matar as saudades (mais um viva para a excelente Estante Virtual!).


A Vaca Voadora / A Vaca na Selva, Edy Lima, Edição do Círculo do Livro

Antes de encontrar a edição no sebo, já havia relido o texto outras vezes na também competente edição da Global, com as divertidas ilustrações do Michele Iacocca. Nessa publicação de 2007, o livro já estava em sua merecida 32a. edição.

A Vaca Voadora, Edy Lima, Edição da Global Editora

Relendo agora, além do que encantava no passado, o prazer está em perceber como todos os personagens têm o seu valor, superando quaisquer preconceitos: as mulheres, as crianças, os homens, os animais (e até os seres mágicos) todos têm o seu papel relevante e são respeitados, tudo apresentado com bastante sensibilidade e humor. Um exemplo? Logo no comecinho do livro, como o pessoal poderia ir comer a omelete de ovos de ouro e deixar a vaca do lado de fora, só porque ela não passava na porta?
"Tia Maricotinha foi entrando em casa, seguida por Gumercindo. A vaca quis acompanhá-los, mas não conseguiu passar na porta, que era um tanto estreita para seu corpanzil. Eu e tia Quiquinha, um pouco constrangidos em deixar a vaca sozinha no lado de fora, ficamos em frente à porta da cozinha, fazendo-lhe companhia. Lá dentro, tia Maricotinha tentava partir os ovos para fazer a omelete, e reclamava:
- Repare só, Gumercindo, que absurdo, só encontro ovos de ouro. Quiquinha com essa mania de transformar tudo em ouro, não deixou um só ovo de verdade." (A Vaca Voadora, Edy Lima, Global Editora, p. 11-12)
A história dos ovos de ouro para a omelete rende uma discussãozinha entre a Tia Quiquinha, alquimista, e a Tia Maricotinha, excelente cozinheira. Mas as desavenças são curtas, tudo pode se resolver. Trecho gostoso de ler na escrita divertida e fluente da Edy Lima:
"Tia Maricotinha embora também de muito bom caráter, resolveu reclamar. Não contra a vaca, mas contra tia Quiquinha:
- Não fosse sua mania de virar tudo em ouro, isso não teria acontecido.
- Calma, Maricotinha, nada é tão grave quanto a gente supõe, nem tão suposto quanto a gente agrava.
- Mas já decidi fazer omelete e quero fazer uma.
- Deixe que eu transformo alguns ovos de ouro em ovos comuns.
- Duvido que você possa fazer isso.
- Não é mais difícil transformar um ovo de ouro em ovo comum, do que um ovo comum em ovo de ouro.
- Não sei, não. Eu posso transformar ovos em omelete, mas não posso transformar omeletes em ovos. [...]" (A Vaca Voadora, Edy Lima, Global Editora, p. 14-15)
E mais um trechinho de que gosto, quando o atirador de facas não consegue competir com Poiranga, o índio convidado para a festa de Gumercindo:

"O atirador de facas protestou:
- A velha é gorda e o alvo se torna mais amplo.
- Não sou tão gorda assim - respondeu tia Maricotinha - e se sou velha não é da sua conta. Pois é coisa muito mais difícil do que ser moço. Afinal, 20 anos é coisa que qualquer um pode ter. Mas nem toda a gente chega até os 60, forte como eu. Caía fora. E para você não ofereço lanche nenhum para o caminho.
O homem saiu meio sem jeito, seguido pela moça equilibrista." (A Vaca Voadora, Edy Lima, Global Editora, p. 98)

Boa resposta, tia Maricotinha!

Mais um outro motivo para este ser um clássico da literatura brasileira: o prazer do texto!

Para tempos de internet, este post ficou um tanto comprido... se você chegou até aqui, minha intenção era passar um pouco do entusiasmo que tenho por essa leitura. Não conhece A Vaca Voadora ainda? Corre conhecer!


Dados das edições citadas:

Autora: Edy Lima (RS - 1924)
Primeira edição de A Vaca Voadora: 1970
Um pouco mais sobre a Edy no Memórias da Literatura Infantil e Juvenil, clicando aqui.
Entrevista da Edy Lima no blog Terravist@ - http://terra-vista.blogspot.com/2009/03/edy-lima.html

Edição do Círculo do Livro:
Capa: Agustin Jordá Villacampa
Ilustrações: Jayme Cortez
São Paulo, 1976, 139p. (mais 178 p. de A Vaca na Selva)

Edição da Global Editora
Ilustrações: Michele Iacocca
Mais informações sobre o ilustrador, aqui.
São Paulo, 2007, 32a. edição, 111 p.


quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Um Dia de Show








Dia de Show da Escola Violão & Cia.
27/08/2011



Um estudo importante de luz, velocidade e foco para os olhos
e
um momento de alegria para os ouvidos!




sábado, 27 de agosto de 2011

Aquarela (Estudos - 18)


Aquarela sobre papel fabriano grana fina


Mais um estudo de aquarela baseado em foto.
A ideia foi tentar aplicar os estudos de síntese no personagem e sugerir o fundo usando mais manchas.




terça-feira, 23 de agosto de 2011

Das preciosidades da grande rede (8) - Illustration Magazine




Estão disponíveis na rede, para visualização, as edições completas da ótima revista americana Illustration.

A revista nasceu em outubro de 2001 (ver editorial do Dan Zimmer no volume 9, n. 34, de 2011) e dedica-se à história da ilustração americana. Recheada de informações e imagens, nos proporciona uma verdadeira "degustação" visual, além de nos dar a oportunidade de conhecer vários artistas.

Particularmente, gostei também das duas edições que tratam de ilustradores contemporâneos que estão na Illustration '05. Uma delas tem matéria com um dos meus ilustradores favoritos - o Peter de Sève.




Esta foi mais uma boa dica que apareceu no fórum de ilustradores do Yahoo - o Ilustragrupo, indicada pelo Ricardo Antunes.

Edições completas: http://issuu.com/illomag




sábado, 13 de agosto de 2011

Aquarela (Estudos 17) - Água e Transparências





Aquarelas sobre papel fabriano grana fina


Estes foram estudos realmente trabalhosos. Um processo que requer planejamento e conseguir dominar a ansiedade para conseguir as fusões, aguardar o papel secar em alguns momentos, deixá-lo completamente úmido, molhado em outros momentos.

Os resultados ainda não estão muito bons (principalmente nas transparências - é preciso muito cuidado para reservar os brancos!).

A cada estudo, a cada nova dica do Cárcamo, percebo que é preciso estar com as mãos e os olhos na aquarela mais e mais. Melhorar, conseguir alcançar algumas metas, depende de muita dedicação. Então, vamos lá!




segunda-feira, 11 de julho de 2011

Aquarela (Estudos - 16)



Aquarela sobre papel fabriano grana fina


Este foi mais um estudo muito interessante e desafiador, com saturação reduzida, baseado na obra de John Singer Sargent.

O original tem cores mais vibrantes e linhas mais fluidas - foi um trabalho com o qual aprendi muito.

O quadro intitula-se Woman Reclining, é de 1908, tem dimensões de 51 X 35,7 cm, e está hoje no Museu de Arte de Cincinnati (informações extraídas do livro The Watercolors of John Singer Sargent, de Carl Little, p. 27).

sábado, 9 de julho de 2011

Aquarela (Estudos - 15)



Aquarela sobre papel fabriano satinado



Aquarela sobre papel fabriano grana fina


Mais alguns estudos de aquarela muito interessantes. A proposta no curso do Cárcamo, nessa aula, foi alcançar sínteses na aquarela em estudos sem usar o lápis.

Os animais e as crianças foram estudos que fiz baseados em fotografias.

Já o estudo abaixo é uma reprodução baseada em pinturas do Cárcamo, daí ficou mais fácil de perceber como fazer as fusões.
Este é um exercício que venho repetindo - além de ajudar a perceber melhor como unir as manchas sem deixar muitas marcas, está ajudando a soltar o traço também!


Aquarela sobre papel fabriano grana fina
baseada em imagens do Cárcamo


sexta-feira, 8 de julho de 2011

O Fantasma de Canterville - Oscar Wilde


"Uma crônica divertida das atribulações do Fantasma de Canterville quando seus salões ancestrais se tornaram o lar do embaixador americano junto à Corte de Saint James." (O.Wilde)


A estória começa com uma família tipicamente americana (os Otis) que, na Inglaterra, resolvem adquirir a propriedade onde habita um célebre e terrível fantasma, a despeito dos avisos de seu proprietário, Lorde Canterville, e do medo expressado pelos criados da casa.

Com um ceticismo característico, a nova família questiona a presença do fantasma. Contudo, em determinado momento, a existência da entidade não pode mais ser negada, o que, entretanto, não intimida os novos moradores - os filhos gêmeos, por exemplo, não hesitam em pregar várias peças no espírito, e o mais velho, Washington, recorre a vários recursos para tentar desbaratar as ações sobrenaturais.

É bastante interessante como o escritor vai apontando os sentimentos do fantasma ao se ver tão desprezado, ao mesmo tempo em que vai se lembrando como sempre fora tão temido. O que estaria mudando? Nesse ponto, a narrativa que vinha sendo feita em terceira pessoa, dá voz ao fantasma, passando à primeira pessoa.

O único membro da família que parece se sensibilizar com a, agora, triste figura é a delicada Virgínia, que terá papel importante na redenção do fantasma, mas isto só poderá ocorrer se uma velha profecia se concretizar... afinal ele havia cometido um crime horrível.

Mais do que uma simples estória de fantasmas, nessa narrativa, Wilde brinca com contrastes existentes entre as culturas inglesa e americana. Ironiza em vários momentos o tradicionalismo inglês e as "modernidades" e o racionalismo americanos, como quando os novos habitantes recebem da governanta da casa explicações sobre uma mancha de sangue no assoalho que teria origem sobrenatural:

"A velha mulher sorriu e respondeu com a mesma voz baixa, misteriosa: 'É o sangue de Lady Eleanore de Canterville, que foi assassinada exatamente naquele lugar pelo marido, Sir Simon de Canterville, em 1575. Sir Simon sobreviveu a ela nove anos e desapareceu de repente, em circunstâncias muito misteriosas. Seu corpo nunca foi encontrado, mas seu espírito culpado ainda assombra a Quinta. A mancha de sangue foi muito admirada por turistas e visitantes e não pode ser removida'.

'Isso tudo é um disparate', exclamou Washington Otis. 'O Campeão dos Tira-Manchas Pinkerton e o detergente Paragon vão removê-la num instante.' E, antes que a apavorada governanta pudesse interferir, ele se ajoelhou e esfregou o chão rapidamente [...]" (p.14-15)

Bastante irônico e até cômico ao início (não há como conter o riso em algumas passagens), aos poucos o livro vai ganhando um toque mais sensível e culmina com uma mensagem bem mais profunda, ao final, sobre o tema vida e morte ... Diz Virgínia:

"Não me peça tal coisa, Cecil, não posso dizer-lhe nada. Pobre Sir Simon! Devo muito a ele. É isso mesmo, não ria, Cecil. Mostrou-me o que é a Vida, o que significa a Morte e por que razão o Amor é mais forte do que a Vida e a Morte." (p.60)


Ilustração de Lisbeth Zwerger (p. 35)

Este foi mais um clássico que valeu a pena conhecer e cuja leitura se tornou ainda mais agradável na indispensável edição da Berlendis & Vertecchia, pelas delicadas ilustrações da premiada artista Lisbeth Zwerger. As imagens completam o texto com um toque bastante especial. Outras aquarelas da artista podem ser vistas no blog Entre lápis e pincéis.

Mais alguns dados da obra:

Texto integral
Autor: Oscar Wilde (1854-1900 - Irlanda)
Título Original: The Canterville Ghost
Tradução e Notas de: Renata Lucia Bottini
Ilustradora: Lisbeth Zwerger (1954 - Áustria)
Editora Berlendis & Vertecchia, São Paulo, 2009, Coleção Os meus clássicos, 63 p.


sábado, 4 de junho de 2011

A árvore vermelha - Shaun Tan



Lindo.
Poesia de ver.
É livro de todas as idades.

Se, a partir de agora, por um momento,
eu me sentir triste,
certamente me lembrarei de um alento,
de que, a cada passo, uma folhinha da árvore vermelha
estará ali, esperando...
esperando pronta para brotar.

Esta obra é livro de deixar-se levar,
de parar para admirar as maravilhosas ilustrações de Shaun Tan...
Por isso, uma importante dica de leitura:
nele imagens e textos se mesclam,
se misturam
se completam, então:
pegue o livro nas mãos,
respire fundo, bem fundo, relaxe
e demore bastante em cada página... observando cada detalhe.



"Quem já não acordou algum dia
com a certeza de que tudo vai mal
e não há nada a fazer?
Quem já não se sentiu
como um peixe fora d'água
em um mundo pra lá de estranho?"
(texto da contracapa do livro A árvore vermelha de Shaun Tan, acima)

Shaun Tan é um artista australiano merecidamente premiado por suas belas criações, com toques surreais. Para saber um pouco mais sobre ele, visite o site (em inglês): http://www.shauntan.net/news1.html

Mais alguns dados da obra:

Autor / ilustrador: Shaun Tan
Título Original: The red tree
Traduzido por: Isa Mesquita
Publicado originalmente pela Lothian Books (Hachette Libre Australia)
São Paulo: Edições SM, 2009, 32 p.


sábado, 28 de maio de 2011

Aquarela (Estudos - 14)


Aquarela sobre papel fabriano grana fina


Mais um estudo baseado na obra do John Singer Sargent, com paleta reduzida.
Tentar decifrar, entender e reproduzir como o artista fez o seu trabalho é um estudo enriquecedor!

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Os contos de Beedle, o Bardo - J. K. Rowling




Quem é fã da série Harry Potter da escritora britânica J. K. Rowling já conhecia Os Contos de Beedle, o Bardo, como um livro infantil existente no mundo dos bruxos.

Mas, mais do que isso, em As Relíquias da Morte, um exemplar desse pequeno livro foi deixado como uma herança especial do Prof. Dumbledore para a Hermione, e teve papel crucial nos eventos sombrios que se sucederam na batalha contra o famigerado Você-Sabe-Quem.

A curiosidade sobre esse livro infantil não deixou de ficar latente por aqui (no mundo dos não-bruxos) e, em 2008, veio à luz em uma nova edição que, conforme a autora, foi traduzida diretamente das runas originais pela própria Hermione, com uma compilação de comentários que Dumbledore havia feito, no passado, sobre os contos. Assim, Rowling, incluindo suas próprias ilustrações, permitiu que também nós conhecêssemos mais esse detalhe que envolvia as crianças de Hogwarts.

O livro contém cinco contos interessantes de tempos remotos, transmitidos através das gerações pelos adultos bruxos a seus filhos e alunos. Nessa simpática edição constam: O bruxo e o caldeirão saltitante; A fonte da sorte; O coração peludo do mago; Babbity, a coelha, e seu toco gargalhante; e O conto dos três irmãos (que ganhou uma belíssima animação no filme As relíquias da morte, parte 1 - é possível vê-la, por enquanto, clicando aqui).

Gostei bastante dos dois primeiros, em especial de A fonte da sorte, que trata de superações e companheirismo. Os comentários de Dumbledore são também muito interessantes, contudo talvez interessem mais a adolescentes e adultos e não tanto às crianças. Minha sobrinha de 10 anos devorou os contos, mas deixou os comentários para ler depois. Esse tipo de obra me fez lembrar a estrutura de as Histórias da Tia Nastácia (Monteiro Lobato), guardadas as evidentes diferenças, claro. No clássico nacional, também Emília, Pedrinho, Narizinho e D. Benta comentavam e criticavam as fábulas e as estórias de fadas contadas pela nossa bondosa tia quituteira.

Rowling foi bastante perspicaz ao incluir esses comentários que, em alguns momentos, criticam a forma como alguns pais e escolas deturpam (ou se acham no direito de alterar) os contos de fadas originais, supondo que, assim, estão "poupando" ou "protegendo" suas crianças de algum perigo ou ideia "subversiva", agindo com um zelo excessivo, como se as crianças devessem ser destacadas do mundo que as rodeia. É como bem diz Dumbledore, ironicamente, no comentário que aparece após o conto O bruxo e o caldeirão saltitante (que trata do uso de magia para ajudar as pessoas comuns, os trouxas):

"[...] Este preconceito foi gradualmente se extinguindo em face da avassaladora evidência de que alguns dos bruxos mais brilhantes do mundo foram, para usar o termo comum, 'amantes dos trouxas'.

A objeção final a 'O bruxo e o caldeirão saltitante' ainda hoje permanece viva em certos setores. Beatrix Bloxam (1794-1910), autora do abominável Os contos do chapéu-de-sapo, foi, talvez, quem melhor resumiu a questão. A sra. Bloxam acreditava que Os contos de Beedle, o Bardo prejudicavam as crianças por sua 'mórbida preocupação com assuntos horrendos como morte, doença, derramamento de sangue, magia perversa, personagens perniciosos, e efusões e erupções corporais repugnantes'. A sra. Bloxam reuniu uma coleção de histórias antigas, inclusive várias de Beedle, e reescreveu-as de acordo com os seus ideais, que, em suas palavras, 'incutiam nas mentes puras dos nossos anjinhos saudáveis pensamentos de felicidade, mantinham o seu doce repouso livre de sonhos maus e protegiam a preciosa flor de sua inocência'. [...]" (p. 16-17)

Mas, afinal, o que a referida sra. Bloxam conseguiu das crianças (certamente mais espertas) foi apenas isto:

"O conto da Sra. Bloxam provocou a mesma reação em gerações de crianças bruxas: incontroláveis ânsias de vômito, seguidas por imediatos pedidos para que alguém levasse o livro [dela] e o transformasse em pasta." (p.18)

Os contos de Beedle, o Bardo, é um livro bastante bem feito que deve agradar mesmo aqueles que ainda não conhecem o mundo de Harry Potter.

Mais alguns dados da obra:

Autora: J. K. Rowling (site oficial http://www.jkrowling.com/)
Ilustrações da autora
Título original: The tales of Beedle the Bard
Tradução: Lia Wyler
Rio de Janeiro, Rocco, 2008, 107 p.
Um percentual da venda dos livros é doado para a Children's High Level Group

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Aquarela (Estudos - 13)


Aquarela sobre papel fabriano grana fina


Este é um estudo baseado em uma obra do grande mestre da aquarela - John Singer Sargent.

A ideia foi tentar reproduzir a pintura com as cores em saturação reduzida (-50%) em relação ao original. O desafio - tentar trilhar os caminhos do mestre, compreender as manchas, sua paleta de cores. A cada tentativa, novos entendimentos vão surgindo...


quinta-feira, 5 de maio de 2011

Aquarela (Estudos - 12)


Aquarela sobre papel fabriano grana grossa


Mais um estudo de aquarela em sépia, para treinar.
Logo mais, um novo caminho - estudos coloridos com saturação de cores reduzida!

sábado, 30 de abril de 2011

Aquarela (Estudos - 11)


Aquarela sobre papel fabriano grana fina


Os estudos 9, 10 e 11 foram feitos em tons de sépia, como parte dos exercícios do curso de aquarela permanente com o Cárcamo, que estou fazendo e gostando demais.

Acima, estudo baseado em um dos barquinhos que estava isolado, lá no trapiche de Antonina, Paraná.

A ideia agora é estudar muito, pintar muito, aprender mais ainda!


Aquarela (Estudos - 10)


Aquarela sobre papel fabriano grana grossa


Aquarela (Estudos - 9) - As amizades



Aquarela sobre papel fabriano grana fina


quinta-feira, 28 de abril de 2011

O Mundo Mágico de Escher - CCBB SP




Gravuras de M. C. Escher (1898 -1972), originais, estudos, instalações, documentário.

Ocupando o térreo, os três andares e mais o subsolo do belíssimo espaço do Centro Cultural Banco do Brasil no coração da capital paulista, tudo isso está disponível nessa exposição muito bem feita e bem organizada.


Logo na entrada, nos deparamos com uma instalação interativa que brinca com nossos sentidos. Duas pessoas, quase do mesmo tamanho, ficam parecendo gigantes ou anões dependendo do lado que escolhem para ficar dentro do espaço. Ao observarmos a instalação de cima, talvez consigamos entender um pouco como a mágica funciona.


Jogos com perspectiva e espelhos estão espalhados em todos os andares, tudo muito interessante e lúdico, como "O poço infinito" e "Periscópio" que estão no 3o. andar. Foi gostoso ver as crianças se divertindo com as surpresas dispostas ali.

No segundo andar, podem ser vistas obras mais antigas de Escher, xilo e litogravuras, inspiradas em cenas italianas, e também o que mais gostei - alguns estudos do artista para compor as suas obras (pena que, nesse caso, são poucos exemplos).

Observando essas obras e assistindo ao vídeo-documentário, que conta com depoimentos do próprio Escher, passamos a entender um pouco melhor a evolução das ideias do artista até chegar a suas obras mais conhecidas.

Várias das mais famosas estão disponíveis no subsolo. Sempre me impressiona ver as obras originais. Nos livros, nas reproduções, temos uma ideia de como são. Mas não com a força dos originais: estes têm as texturas, as cores e tamanhos criados pelo artista e que, certamente, ficam escondidos nas reproduções. Um exemplo? As formigas vermelhas da "Fita de Moebius II" e as cores e tamanho de "Outro Mundo".

Nos espaços externos - corredores e saguões - é permitido fotografar; exceto nas salas onde estão as obras originais. Também não tive problemas para fazer anotações, outro ponto positivo da organização.

Para conferir esta excelente exposição, é bom ir com bastante tempo disponível, para apreciar e brincar em tudo que está por ali. Passei três horas e meia imperdíveis. E ainda acho que vou repetir a visita um dia desses...!

A exposição fica em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil,
na Rua Álvares Penteado, 112 - Centro de São Paulo,
até o dia 17 de julho de 2011, de terça a domingo, das 9h às 20h,
com entrada franca e classificação livre

Mais informações sobre a exposição estão disponíveis em: