Muitas pessoas leem os livros com ilustrações como se as
imagens não tivessem tanta importância para a história que está sendo contada.
Na escola (pelo menos quando estive por lá, o que já faz um tempinho rs), somos
preparados desde bem pequenos para ler o texto: primeiro as letras, depois as
palavras, as frases, o texto todo e, então, tentar progredir para captar os
significados, deixar a imaginação à solta – é um grande
estudo que leva anos e segue pela vida toda. Mas fico com a impressão de que a mesma
atenção não é dada às artes visuais, às imagens, às ilustrações.
Será que não deveria haver um espaço também para estudos nesse sentido? Por que não discutir as formas, as
cores, as linhas, tentar analisar por que uma imagem tem esta ou aquela composição, por que
esta fotografia foi escolhida para uma matéria de jornal e não aquela, que
carga de significado está por trás disso?
Quando lemos o excelente Contos
de Lugares Distantes, não temos como nos fixar apenas ao texto. O livro foi
concebido para ser lido em conjunto texto + imagem. As imagens não podem ser vistas
sem atenção - se isso for feito, a compreensão do significado ficará prejudicada.
Como consta em texto sobre o autor no final do livro (p. 100), para Shaun Tan:
“As ilustrações são o principal ‘texto’ de seus livros”. Daí que é difícil olhar para as imagens apenas para dizer “que bonito”. Claro, isto também e mais - são lindas as imagens, intrigantes, mas é preciso atentar para o fato de que elas estão lá como parte da tessitura, entranhadas no
que se quer contar.
Nestes tempos de
pressa, de ansiedade, de correria, os contos do Shaun Tan me fazem
desacelerar, ler com calma, vendo com atenção, degustando, como se aprecia um
bom vinho (ou uma boa cerveja gelada, se estiver um calor absurdo como o que anda fazendo
este verão).
São vários contos com diferentes concepções que tratam de eventos que, se acontecessem, tornariam o nosso dia menos óbvio ou, ao menos, nos fariam parar para refletir.
Em Eric, um dos meus contos preferidos, por exemplo, depois do título aparece uma ilustração com o Eric e, na sequência, o texto começa assim:
"alguns anos atrás, um estudante de intercâmbio veio morar conosco. Achávamos muito difícil pronunciar seu nome corretamente, mas ele não se importava. Dizia para chamá-lo simplesmente de 'Eric'.” (p.8).
As imagens carregam sentido, causando um estranhamento - o Eric é realmente diferente do que poderíamos esperar de um estudante de intercâmbio. O conto me fez pensar sobre o convívio com o estrangeiro (com o estranho): o quanto realmente sabemos do outro, como vemos o diferente, como lidamos com ele. E daquela sensação que fica de que, talvez, pudéssemos ter feito melhor - sensação reforçada pela delicada imagem que encerra o texto.
Em outro conto, Chuva ao longe, o texto está dentro das imagens, nos pequenos fragmentos recortados. Nos pedaços de poemas que alguém sempre se arriscou a escrever, mas que ficou esquecido, perdido, escondido, por aí. O interessante é acompanhar o conto para saber o que pode acontecer com esses poemas.
Em História do Vovô, as imagens carregam metáforas sobre o ritual (?!) que precedeu o casamento do avô e que ele está contando para os netos - do que ele precisou passar para chegar à união. Nesse conto, além das imagens-metáforas de cada estágio pelo qual o casal teve de passar, as cores também têm um papel fundamental.
Parar para observar cada imagem prestando
atenção à arte é um dos pontos altos da leitura - o Shaun Tan mistura (e domina) várias técnicas em suas
ilustrações – tem acrílica, guache, grafite, óleo; tudo com traço e estilo marcantes.
Por isso, gosto tanto deste livro e recomendo a leitura. Porque ele nos causa estranhamento, tem um quê de surreal que desperta a
imaginação e muitas reflexões. Da primeira vez, acabei de ler os contos com um sorriso e
um baita ponto de interrogação. Será que entendi tudo que estava lá? E o bom foi
descobrir que não! Ótimo - assim posso voltar ao livro (esta já é a terceira vez),
sempre descobrindo mais alguma coisa que não tinha visto antes. E não é isso mesmo que devem fazer as grandes obras?
Quarta capa do livro, na excelente edição da Cosac Naify,
com texto do Neil Gaiman (muito bom!)
Tradução: Érico Assis (O Érico também comentou sobre este livro no Blog da CosacNaify)
São Paulo: Cosac Naify, 2012, 104p., 49 ils.
P.S.: às vezes, o livro também aparece classificado como “história em quadrinhos”. Estranho... Não me parece que esta seja uma
boa classificação, mas também acho que o livro não se enquadraria muito bem em
nenhuma outra. Contos, como diz o próprio título, talvez..., um livro
de instantâneos de vida.
P.S.2: Um pouco mais sobre o Shaun Tan. The Evolution of an Idea (em 3 partes, com Neil Gaiman e Eddie Campbell). Aqui a primeira parte:
Para começar bem o ano, algumas imagens de aves que vemos todos os dias no Campus da Cidade Universitária, em São Paulo, mas que nem sempre são fáceis de fotografar:
Quero-quero
Um pássaro muito interessante, que faz seus ninhos no chão e, por isso, nos enfrenta quando entramos em seu território. O que é bom para fotografar, porque dá para chegar mais perto e ele não se assusta tão facilmente.
Picapau do campo
3 picapaus do campo procurando alimento
Picapau do campo
No caso dos picapaus, já não dá para se aproximar muito, por isso o zoom da máquina precisa ser mais potente. Estava com uma Canon G12 para as fotos dos picapaus (não consegui a definição que pretendia para essas imagens).
No caso dos 4 aqui, este que estava na árvore piava diferente quando eu tentava me aproximar mais, o que parecia ser um alerta para os 3 que estavam no chão. Eles ficavam mais atentos e se afastavam.
Sabiá laranjeira
Apesar de um pouco ariscos, até consegui chegar bem perto.
Neste caso, o zoom da máquina ajudou muito para a imagem ficar mais nítida, assim como a do quero-quero (primeira imagem do post). Usei uma Fuji Finepix HS 30 EXR (gosto muito desta câmera)
Por isso, resolvi dar uma repaginada geral aqui no blog e já comecei pelo título. A ideia veio da quantidade absurda de livros que tenho, da quantidade enorme dos que leio e do volume maior ainda dos que ainda não consegui ler, além daqueles que fico olhando de longe e já querendo adquirir - rs rs.
E ainda tem mais: da pilha infinita daqueles que quero comentar com vocês e ainda não consegui!!
Estava um pouco incomodada também com o layout antigo, me parecia um pouco pesado com aquele cinza todo, sei lá...
A ideia foi tentar deixar o blog mais agradável para ler, ainda não me decidi muito bem quanto ao fundo das postagens - não sei se está atrapalhando o texto. Pode ser que ainda haja alguns pequenos ajustes nos próximos dias, mas espero que vocês gostem. Sugestões são bem vindas também!