domingo, 26 de outubro de 2008

5 - Fábio Moon, Gabriel Bá, Rafael Grampá, Becky Cloonan e Vasilis Lolos


Fonte: Fábio Moon e Gabriel Bá


Ler, observar imagens, atentar para o foco e para a sequência narrativa. Tudo isso fazemos ao ler uma história em quadrinhos. Mas algo tem de ficar claro: os quadrinhos constituem uma linguagem autônoma, um gênero específico que não se confunde com literatura, teatro, cinema (apesar de poder conter elementos de todos eles). As histórias em quadrinhos constituem-se por isso que são: quadrinhos e, assim, têm as suas particularidades ao serem apreciadas ou analisadas.

A revista independente 5, que conta com a participação de cinco autores: os paulistas Fábio Moon e Gabriel Bá, o gaúcho Rafael Grampá, o grego Vasilis Lolos e a norte-americana Becky Cloonan, ganhou o principal prêmio internacional dos quadrinhos - o Eisner Awards, na categoria Antologia, e faz jus a isso.

Foi interessante tentar escrever sobre ela, usando apenas palavras. Afinal, como tratar, desta forma, uma obra que é composta exclusivamente por imagens?

E aí uma das coisas que mais me agradou: as estórias (a idéia era que cada um dos autores contasse um pouco sobre os outros) conversam entre si o tempo todo, através dos desenhos. É preciso atentar para cada quadrinho: observar, por exemplo, nos cenários, as pichações nas paredes, as imagens nos televisores, o material que está na prancheta de cada personagem. Os desenhos fazem referência à amizade dos autores, aos próprios quadrinhos que estão montando para a compor a revista 5, os lugares onde estão, o que estão sentindo.

As estórias foram assim organizadas: Gabriel Bá contou sobre Becky; Becky sobre o Fábio e o Gabriel; Fábio sobre o Vasilis; e o Vasilis sobre o Grampá; além disso todas as estórias têm uma bela página de entrada desenhada pelo Grampá, repleta de detalhes (veja um exemplo aqui).

Trata-se de um trabalho instigante, daqueles que sempre queremos olhar de novo - a cada vez que se pega a revista, podemos apreciar cada desenho e descobrir um detalhe novo, uma informação, uma sensação nova.

Mais alguns dados da obra:
Autores e links para os blogs

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

24 de outubro - Dia do Origami

Photobucket


Um dia para comemorar as transformações que conseguimos fazer com os papéis!

A idéia do selo e da blogagem coletiva foi sugerida pela Maria do Carmo do Dobrando com Arte. Vale também visitar o blog do Norberto, que escreveu um texto interessante sobre o assunto.


E como costumamos dizer: abraços dobrados a todos!


terça-feira, 21 de outubro de 2008

O Gênio do Crime – João Carlos Marinho



Quando um livro nos prende a atenção e nos delicia na infância, é quase certo que ficará registrado na memória e, um dia ou outro, teremos vontade de reviver as emoções que ele nos passou. É quase certo que, no momento da releitura, também sejamos outros, mais descrentes, mais endurecidos talvez, e uma certa apreensão nos tome ao recomeçarmos a leitura... Será que não vamos estragar uma lembrança querida? Será que o livro era tão bom mesmo?

E quando a leitura nos surpreende positivamente, que alegria! Foi isso que aconteceu esses dias quando reli o delicioso O Gênio do Crime. Para se ter uma idéia, o livro foi escrito pelo João Carlos Marinho em 1969 e o li, pela primeira vez, na década de 80. Há quase quarenta anos da publicação, essa estória da Turma do Gordo continua tão envolvente quanto antes.

Tendo como cenário a cidade de São Paulo, as peripécias de Pituca, Edmundo, Bolacha e Berenice para encontrar a gangue que falsifica figurinhas de futebol e acaba prejudicando o Seu Tomé são narradas em uma trama bem urdida, cheia de suspense, aventura e humor. Como não se divertir com as aparições do grande e bem humorado detetive invicto Mister John Smith Peter Tony e com as idéias do Bolacha?


- Seu Tomé tem razão, esbarramos num osso duro. O chefe dessa quadrilha aí é danado de tigre.
O Bolachão ouvia quieto como costume ocupado nas torradas. A tostadeira deu um apito e – fuim – jogou a torrada no ar; o gordo aparou a torrada antes de cair no prato, pôs a geléia com a outra mão e ia comer quando, de repente, largou torrada e geléia e levantou-se de supetão.
- Péra aí. Tem uma idéia mexendo na minha cabeça, parece boa. Ela vai, volta, mas não consigo pegar, foge logo.
Estava com cara diferente de quem está inspirado e começou a andar daqui prali; ia até o trem elétrico, dava meia-volta, passava no posto de gasolina, no aviãzinho, na ambulância, parava no autorama e voltava de novo.
- O gordo entrou em transe – disse Pituca. (p.35-36)



Mas não se trata apenas de uma leitura descompromissada. É o que bem destaca Nelly Novaes Coelho no Dicionário Crítico da Literatura Infantil e Juvenil Brasileira:


É leitura que diverte o leitor e que, divertindo, leva-o a pensar nas muitas falhas sociais existentes e também no fato de que uma reação inteligente e organizada (como a dos meninos para redescobrir a fraude do cambista) poderia ir sanando aqui e ali. (p. 361)


A edição que tenho em mãos é a 58ª., está bem cuidada e conta também com ilustrações de Maurício Negro (pena que são poucas – mas outros trabalhos do autor podem ser vistos no blog dele – clicando aqui).


Mais alguns dados da obra:

Autor: João Carlos Marinho (carioca de Botafogo, nascido em 25/09/1935 – para mais informações sobre o autor, vale ler o depoimento que ele próprio nos dá, clicando aqui).
Ilustrações: Maurício Negro
São Paulo, Global Editora, 58ª. ed., 2005, 142p.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Borboleta (Butterfly - Origami)



Borboleta, palavra portuguesa, cuja origem provável é a palavra latina *belbellita, de bellus, que significa bom, bonito.

Também assim com o modelo que permitiu dobrar essa revoada de borboletas. O modelo foi criado pelo Michael LaFosse, que oferece, na internet (ver aqui), as instruções em vídeo para essa dobradura, além de vários outros modelos muito interessantes.



Segundo o site, esta borboleta é um origami de nível avançado. Contudo, no vídeo em que ele ensina como dobrar, tudo parece até simples - tudo bem didático, mesmo para quem não compreende inglês. Vale experimentar.



Uma curiosidade: para algumas culturas, como a dos astecas e na antiguidade greco-romana, a borboleta simbolizava a alma, o sopro vital, tanto que Psique, na Grécia, era representada com asas de borboleta (também assim retratada por Bouguereau )


quinta-feira, 9 de outubro de 2008

A eternidade e o desejo - Inês Pedrosa




Cega. Clara já não pode mais ver. Acompanhada pelo amigo Sebastião, resolve visitar novamente o Brasil em uma excursão que, partindo de Portugal, sua terra natal, visitará os locais percorridos pelo Padre Antônio Vieira. Eis um fio breve da narrativa, muito breve, pois o encanto da leitura de A eternidade e o desejo está justamente no modo como tudo é contado, na maneira como a escritora usa as palavras, escolhendo-as, arranjando-as, numa bela trama textual.

Dividido em duas partes - A eternidade, mais longa, e o Desejo, mais curta, surpreendeu-me a forma como o livro está estruturado: cada bloco narrativo é escrito em primeira pessoa: ora é Clara quem narra, ora Sebastião. Entre os dois, sentimentos conflitantes. Para ela, amizade:


[...] As histórias que sonhámos para as pessoas amadas flutuam na neblina dos dias muito quentes, como mentiras leves tocadas pelo peso da verdade. Espuma do mar desfeita ao toque dos dedos. Não te canses a inventar-me no desejo do teu corpo, Sebastião, que o que em mim crês amar não é mais do que a memória das lágrimas, das tuas lágrimas, feitas de uma luz distinta das minhas. [...] (p. 53)

para ele, um amor forte, continuamente frustrado:

[...] Eu sei que tu sabes, Clara - só queria apagar esse sorriso radioso que tu trazes da rua, esse sorriso que contraíste longe de mim, nos braços de outro homem, cega, cega, cega ao amor cego que tenho por ti, cega ao meu sofrimento. [...] (p. 125)



Também está presente a voz do Padre Antônio Vieira em trechos de seus textos que entremeiam a narrativa, pontuando, com seu estilo barroco, o que se vai passando.

Uma obra literária intrigante da primeira à última página. Do começo ao fim, ficamos envolvidos pelos pensamentos e caminhos trilhados por Clara, pela forma como nosso país é descrito - a sensualidade da Bahia, o sincretismo religioso local, as descobertas que ela faz, aos poucos, sobre si própria.

Para aguçar a curiosidade, mais um trechinho da obra:

- Tudo? Mas o que é tudo? Tudo o que vejo? - perguntas num sussurro. Como se, de súbito, te sentisses esmagado pela intraduzível vastidão do teu olhar. O que se vê nunca se pode narrar com rigor. As palavras são caleidoscópios onde as coisas se transformam noutras coisas. As palavras não têm cor - por isso permanecem quando as cores desmaiam. Percebo o teu aturdimento: como se traduz a visão? Como se emprestam os olhos? Impossível. (p. 13)


Mais alguns dados da obra:

Autora: Inês Pedrosa (1962 - Portugal)
Mais informações sobre A eternidade e o desejo, pela própria autora, podem ser vistas na entrevista feita por ocasião da sua participação na Festa Literária de Paraty, clicando aqui.

Rio de Janeiro: Objetiva, 2008, 179 p.

Machado de Assis - Obra Completa e Vídeos na rede


Foto feita no Museu da Língua Portuguesa
Exposição Machado de Assis - 2008



As comemorações do centenário de falecimento de Machado de Assis estão rendendo bons frutos, principalmente quanto ao acesso à obra do autor pela internet.

Vou destacar alguns endereços que apresentam um material importante sobre o autor:


1) Machado de Assis: Obra Completa


Iniciativa do Ministério da Educação e Cultura, como diz a apresentação é: "Resultado de uma parceria entre o Portal Domínio Público - a biblioteca digital do MEC - e o Núcleo de Pesquisa em Informática, Literatura e Lingüística (NUPILL), da Universidade Federal de Santa Catarina, o projeto teve como propósito organizar, sistematizar, complementar e revisar as edições digitais até então existentes na rede, gerando o que se pode chamar de Coleção Digital Machado de Assis."

Importante a preocupação dos organizadores em revisar as edições digitais existentes - alguns dos textos disponíveis, e que já consultamos, apresentavam sérias incorreções que acabavam desviando a atenção durante a leitura dos textos machadianos.

Além da obra completa do autor (romances, contos, crônicas, entre outros), o site conta ainda com um vídeo produzido pelo TV Escola da série Mestres da Literatura, com a participação de estudiosos de literatura e história; e apresenta links para teses e outros sites da rede que tratam da obra de Machado de Assis.


2) Vídeos da Globo News Documento:


Os mestres do mestre Machado de Assis
Machado de Assis, o bruxo das palavras - o cronista e seu tempo
Machado de Assis: o romancista e sua escrita


Por aqui, deste autor que me fascina há muitos anos, estou relendo o Memorial de Aires que espero comentar em breve.


domingo, 5 de outubro de 2008

Entardeceres




Cancão do dia que se vai
Federico García Lorca



Que trabalho me dá
deixar-te ir, ó dia!
Vais cheio de mim,
voltas sem me conhecer.
Que trabalho me dá
deixar sobre teu peito
possíveis realidades
de impossíveis minutos!

Na tarde, um Perseu
te lima as correntes,
e foges sobre os montes
ferindo-te os pés.
Não podem seduzir-te
minha carne nem meu pranto,
nem os rios nos quais
dormes tua sesta de ouro.

Do Oriente ao Ocidente
levo tua luz redonda.
Tua grande luz que sustém
minha alma, em tensão aguda.
Do Oriente ao Ocidente,
que trabalho me dá
levar-te com teus pássaros
e teus braços de vento!



In: LORCA, Federico García. Obra Poética Completa, p. 347-348
Tradução de Willian Agel de Melo. Brasília: Editora da Unb/São Paulo: IMESP, 2004.