terça-feira, 8 de julho de 2008

De repente, nas profundezas do bosque - Amós Oz


Os animais, um dia, decidiram partir do vale, ficar longe dos homens...

E como conseguem esses homens viver agora ouvindo apenas os sons de suas próprias vozes, de seus próprios passos? Onde o canto dos pássaros, o zumbido dos insetos, o companheirismo dos cachorros e gatos? E por que os adultos não querem falar disso com as crianças, que já não conseguem saber se os animais existem ou se são apenas lendas?

Essas perguntas agitam esse excelente livro de Amós Oz. O clima todo da história é permeado de suspense e causa um estranho desconforto que nos faz pensar nossa relação com a natureza e com o mundo que nos rodeia.

Como olhamos para aqueles que, como a profa. Emanuela, como Almon, como Nimi, Mati e Maia acreditam que o mistério deva ser descoberto, que buscam sua relação com a natureza, que buscam respostas? Por que as discriminações, as gozações, se o seu pensamento, o seu modo de agir é um pouco diferente do considerado "normal"?

Um trechinho para dar o gostinho da prosa desse escritor israelense:


Além de Almon, o pescador, a quem ninguém dava ouvidos porque todos debochavam dele, não havia ali em toda a aldeia alguém que ensinasse as crianças que a realidade não é apenas o que o olho vê e não somente o que o ouvido escuta e o que a mão pode tocar, mas também o que se esconde do olho e do toque dos dedos e se revela às vezes, só por um momento, para quem procura com os olhos do espírito e para quem sabe ficar atento e ouvir com os ouvidos da alma e tocar com os dedos do pensamento. Mas quem aqui afinal queria dar atenção a Almon? Ele era um homem velho, falador e quase cego, que sempre ficava discutindo com seu medonho espantalho. (p. 52).



Mais uma leitura de muito prazer e reflexão.

Outros dados da obra:

Escritor: Amós Oz (nascido em Jerusalém, 1939. Esteve na Festa Literária Internacional de Paraty - FLIP em 2007. Um trechinho do que foi discutido na mesa da qual fez parte pode ser visto no site da FLIP, clicando aqui)

Título original: Pit'om Beomek Haiaar
Publicado originalmente em 2005
Tradutor do hebraico: Tova Sender
Editora: Companhia das Letras, 2007, 141 p.

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