Quando um livro nos prende a atenção e nos delicia na infância, é quase certo que ficará registrado na memória e, um dia ou outro, teremos vontade de reviver as emoções que ele nos passou. É quase certo que, no momento da releitura, também sejamos outros, mais descrentes, mais endurecidos talvez, e uma certa apreensão nos tome ao recomeçarmos a leitura... Será que não vamos estragar uma lembrança querida? Será que o livro era tão bom mesmo?
E quando a leitura nos surpreende positivamente, que alegria! Foi isso que aconteceu esses dias quando reli o delicioso O Gênio do Crime. Para se ter uma idéia, o livro foi escrito pelo João Carlos Marinho em 1969 e o li, pela primeira vez, na década de 80. Há quase quarenta anos da publicação, essa estória da Turma do Gordo continua tão envolvente quanto antes.
Tendo como cenário a cidade de São Paulo, as peripécias de Pituca, Edmundo, Bolacha e Berenice para encontrar a gangue que falsifica figurinhas de futebol e acaba prejudicando o Seu Tomé são narradas em uma trama bem urdida, cheia de suspense, aventura e humor. Como não se divertir com as aparições do grande e bem humorado detetive invicto Mister John Smith Peter Tony e com as idéias do Bolacha?
- Seu Tomé tem razão, esbarramos num osso duro. O chefe dessa quadrilha aí é danado de tigre.
O Bolachão ouvia quieto como costume ocupado nas torradas. A tostadeira deu um apito e – fuim – jogou a torrada no ar; o gordo aparou a torrada antes de cair no prato, pôs a geléia com a outra mão e ia comer quando, de repente, largou torrada e geléia e levantou-se de supetão.
- Péra aí. Tem uma idéia mexendo na minha cabeça, parece boa. Ela vai, volta, mas não consigo pegar, foge logo.
Estava com cara diferente de quem está inspirado e começou a andar daqui prali; ia até o trem elétrico, dava meia-volta, passava no posto de gasolina, no aviãzinho, na ambulância, parava no autorama e voltava de novo.
- O gordo entrou em transe – disse Pituca. (p.35-36)
Mas não se trata apenas de uma leitura descompromissada. É o que bem destaca Nelly Novaes Coelho no Dicionário Crítico da Literatura Infantil e Juvenil Brasileira:
É leitura que diverte o leitor e que, divertindo, leva-o a pensar nas muitas falhas sociais existentes e também no fato de que uma reação inteligente e organizada (como a dos meninos para redescobrir a fraude do cambista) poderia ir sanando aqui e ali. (p. 361)
A edição que tenho em mãos é a 58ª., está bem cuidada e conta também com ilustrações de Maurício Negro (pena que são poucas – mas outros trabalhos do autor podem ser vistos no blog dele – clicando aqui).
Mais alguns dados da obra:
São Paulo, Global Editora, 58ª. ed., 2005, 142p.
4 comentários:
Agora me lembrei da história!! Quero ler de novo também!! Tenho ótimas lembranças ;)
Oi, Raquel,
Que legal! Pode deixar que eu te empresto o livro, já vou separar!
Beijão!
Adoro o Gênio do Crime, mas não concordo com quem diz que este é indiscutivelmente o melhor livro do JCM e que depois disso ele desceu ladeira abaixo... O que você acha, Pá? O meu favorito é Berenice Detetive, pela facilidade que tive em me identificar com a protagonista, do alto dos meus 9 ou 10 anos de idade. Beijos!
Oi, Cami!
Eu conheço O Gênio do Crime e O Caneco de Prata - e gosto mais do primeiro. Mas pretendo ler outras obras para ter uma visão mais abrangente.
Andei pesquisando e descobri que o pessoal comenta muito bem sobre o Sangue Fresco, que ganhou o Prêmio Jabuti em 1983. Pretendo experimentar este e o mais recente dele - Assassinato na literatura infantil, para sentir como está a produção agora.
E já que você gostou, vou experimentar o Berenice Detetive também! Então... comentaremos mais depois, ok?!!
Um beijão
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