Aquarela sobre papel fabriano grana grossa
Edgar Allan Poe nasceu no dia 19 de janeiro de 1809. Duzentos anos se passaram e a vivacidade de seus escritos se mantém. Estou relendo os contos desse autor e sempre fico impressionada com a capacidade de prender nossa atenção e com a maneira como ele conseguia desenvolver as tramas, ao mesmo tempo em que criava narradores tão profundos e inquietantes como o inconstante homem que conta sua estória em O gato preto.
Nesse conto, narrado em primeira pessoa, acompanhamos o desenrolar de fatos que, segundo aquele que conta, o transformaram, afinal nem sempre fora ele um homem desequilibrado, capaz de ações indizíveis... Apesar de negar, a princípio, que queira justificar seus atos ou que alguém o venha a compreender, narra entremeando pensamentos que tentam levar a isso, minimizar os atos cruéis que praticou. É o típico narrador que não permite identificação com o leitor, que nos incomoda, algo como o Raskólnikov de Dostoiévski ou o Brás Cubas do Machado de Assis, guardadas, claro, as devidas diferenças.
"Para a muito estranha embora muito familiar narrativa que estou a escrever, não espero nem solicito crédito. Louco, em verdade, seria eu para esperá-lo, num caso em que meus próprios sentidos rejeitam seu próprio testemunho. Contudo, louco não sou e com toda a certeza não estou sonhando. Mas amanhã morrerei e hoje quero aliviar minha alma. Meu imediato propósito é apresentar ao mundo, plena e sucintamente e sem comentário, uma série de simples acontecimentos domésticos. Pelas suas conseqüências, estes acontecimentos me aterrorizaram, me torturaram e me aniquilaram. [...]" (O Gato Preto, in: Allan Poe - poesia e prosa. Rio de Janeiro: Ediouro, [19??]. p. 245)
Também foi Poe quem inspirou muitos autores de romances policiais. É considerado o criador dos primeiros contos cujas tramas envolvem mistérios que exigem o uso de muito raciocínio e lógica para serem resolvidos e nos quais aparece um minucioso e perspicaz detetive - Auguste Dupin. O personagem aparece em: Os crimes da rua Morgue , O mistério de Marie Rogêt e A carta roubada.
Vários contos de Poe podem ser encontrados na web. Em português, outros contos também igualmente interessantes:
Em inglês, podem ser encontrados no site da Edgar Allan Poe Society.
Um dos meus favoritos, além de O gato preto, é o conto A máscara da morte rubra. Um texto conciso e denso. Poe capricha na descrição para nos situar na abadia fortificada onde o Príncipe Próspero procura escapar da peste. A imagem que nos vem à mente é plasticamente intrigante - cores diferentes dominam cada salão (azul, púrpura, verde, laranja, branco, roxo e o assustador negro); música, agitação e constrangedores silêncios marcam aqueles que se retiraram com o príncipe, quase certos de que ali estariam seguros. A cada vez que leio (e já foram muitas) descubro algo novo - certamente é esta uma das características que faz Poe estar tão vivo hoje quanto há duzentos anos.
O bicentenário de Poe está sendo comemorado pelo mundo e há alguns endereços que vale a pena visitar (além de seu conteúdo, têm uma série de referências para outras fontes sobre o autor):
E também:
No Pós-estranho, um texto muito bom sobre os contos de raciocínio de Poe, dentre outros sobre o escritor.
2 comentários:
Hola,
Eu começei a ler a Poe depois de ver os filmes com Vincent Price, (em branco e preto obviamente)
maravillosamente aterrorizantes.
Agora, deveríamos tentar fazer a relação com o origami, poderíamos fazer o gato preto ou o péndulo, ou o corvo.
sei la, alguma coisa para comemorar esses duzentos anos
Um abraço
Olá, Gregorio!
Realmente fico sempre fascinada com a capacidade que o Poe tinha de prender nossa atenção, fazendo-nos ficar vidrados naquele misto de suspense e terror.
Gostei muito da sua ideia de fazermos origamis em homenagem ao escritor! Vou pesquisar modelos de corvo. Uma montagem onde aparecesse um corvo se equilibrando em um pêndulo seria bem legal, né?
Um abração e obrigada pela visita!
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