segunda-feira, 1 de março de 2010

O Silêncio da Chuva - Luiz Alfredo Garcia-Roza



Na melhor linha dos romances policiais, o Silêncio da Chuva traz a primeira aventura publicada do investigador carioca Espinosa.

Personagem tão cativante quanto outros detetives famosos da literatura de que gosto muito, como o Dupin de Poe e o Holmes de Conan Coyle, tem suas peculiaridades. Com relação aos dois citados, por exemplo, enquanto estes resolvem seus casos independentemente de vínculo com as instituições policiais, satirizando-as muitas vezes, Espinosa está dentro da polícia, dela faz parte, embora dela duvide muito.

Neste primeiro romance, Espinosa se vê às voltas com o seguinte caso: um homem é encontrado morto em seu carro num edifício-garagem no Rio e tudo indica, para a polícia, que houve homicídio – nenhuma arma é encontrada. Entretanto, para nós, leitores, o primeiro capítulo já havia apresentado o que ocorrera, tudo bem diferente do que a polícia considera - temos informações que o personagem principal não tem. Mas será que temos todas?

Podemos achar que o livro vai girar apenas sobre como o investigador desvendará o caso que nós, leitores, já acreditamos saber do que se trata. Mas não é bem assim que o texto se desenvolve. Voltas e reviravoltas, surpresas e, o que mais me interessou, um personagem que se questiona, que erra, tropeça, se surpreende e nos surpreende, que reflete sobre a vida. Não é por acaso que ele tem nome de filósofo.

“Entrou em casa pensando se teria uma história pessoal ou várias e, dependendo da resposta, se ele seria uma ou várias pessoas. Antes de acender a luz do abajur da sala, descartara a pergunta como estúpida, apesar de arrastar até o banheiro um rabo de dúvida. [...]


Enquanto pensava em tudo isso, acendia as luzes do apartamento, sem nenhuma razão aparente além da necessidade de esclarecer a si mesmo. Fez o caminho inverso, apagando cada uma delas, deixando aceso apenas o abajur da sala. Tomou um banho demorado, desembrulhou um sanduíche dito natural, que estava na geladeira, abriu uma cerveja, esticou-se no sofá da sala e começou a pensar na morte, não na idéia abstrata de morte, mas em quanto tempo ainda teria de vida. Isso aos quarenta e dois anos, numa noite de sábado, num apartamento de solteiro em Copacabana. Concluiu que já estava morto. Foi dormir.” (p. 118-119).


Conheci o investigador em uma entrevista do autor Garcia-Roza no programa Espaço Aberto Literatura, por ocasião do lançamento do novo livro com Espinosa – Céu de Origamis (o vídeo da Globo está disponível temporariamente – ver abaixo). Resolvi começar pelo primeiro romance pelo fato de o autor ter comentado, na entrevista, que tem uma preocupação em fazer com que o personagem vá se transformando, que vá envelhecendo a cada livro. Foi uma boa opção – agora vamos aos outros romances!






Mais alguns detalhes da obra:
Autor: Luiz Alfredo Garcia-Roza (RJ, 1936)
Companhia das Letras, São Paulo, 2005, 245p. (Cia. de Bolso)
Publicado originalmente em: 1996

3 comentários:

Anônimo disse...

Eu sou fã dessa coleção da Companhia das Letras, textos maravivolhosos e bem escolhidos...barata...e com capas fantásticas e atuais...
Beijo
Leca

Patrícia C. disse...

Oi, Leca!
tudo bom?

Eu também gosto bastante dessa coleção, títulos ótimos por um preço bem camarada, né?
Já tenho outros aqui na fila, comprados e ainda não lidos - rs, mas, certamente, vão ganhar posts em breve ;)

Um abração

Célia Costa disse...

Que legal Patricia, não conhecia o autor e obra, fiquei curiosa.òtimo post ! Beijos !