"Uma crônica divertida das atribulações do Fantasma de Canterville quando seus salões ancestrais se tornaram o lar do embaixador americano junto à Corte de Saint James." (O.Wilde)
A estória começa com uma família tipicamente americana (os Otis) que, na Inglaterra, resolvem adquirir a propriedade onde habita um célebre e terrível fantasma, a despeito dos avisos de seu proprietário, Lorde Canterville, e do medo expressado pelos criados da casa.
Com um ceticismo característico, a nova família questiona a presença do fantasma. Contudo, em determinado momento, a existência da entidade não pode mais ser negada, o que, entretanto, não intimida os novos moradores - os filhos gêmeos, por exemplo, não hesitam em pregar várias peças no espírito, e o mais velho, Washington, recorre a vários recursos para tentar desbaratar as ações sobrenaturais.
É bastante interessante como o escritor vai apontando os sentimentos do fantasma ao se ver tão desprezado, ao mesmo tempo em que vai se lembrando como sempre fora tão temido. O que estaria mudando? Nesse ponto, a narrativa que vinha sendo feita em terceira pessoa, dá voz ao fantasma, passando à primeira pessoa.
O único membro da família que parece se sensibilizar com a, agora, triste figura é a delicada Virgínia, que terá papel importante na redenção do fantasma, mas isto só poderá ocorrer se uma velha profecia se concretizar... afinal ele havia cometido um crime horrível.
Mais do que uma simples estória de fantasmas, nessa narrativa, Wilde brinca com contrastes existentes entre as culturas inglesa e americana. Ironiza em vários momentos o tradicionalismo inglês e as "modernidades" e o racionalismo americanos, como quando os novos habitantes recebem da governanta da casa explicações sobre uma mancha de sangue no assoalho que teria origem sobrenatural:
"A velha mulher sorriu e respondeu com a mesma voz baixa, misteriosa: 'É o sangue de Lady Eleanore de Canterville, que foi assassinada exatamente naquele lugar pelo marido, Sir Simon de Canterville, em 1575. Sir Simon sobreviveu a ela nove anos e desapareceu de repente, em circunstâncias muito misteriosas. Seu corpo nunca foi encontrado, mas seu espírito culpado ainda assombra a Quinta. A mancha de sangue foi muito admirada por turistas e visitantes e não pode ser removida'.'Isso tudo é um disparate', exclamou Washington Otis. 'O Campeão dos Tira-Manchas Pinkerton e o detergente Paragon vão removê-la num instante.' E, antes que a apavorada governanta pudesse interferir, ele se ajoelhou e esfregou o chão rapidamente [...]" (p.14-15)
Bastante irônico e até cômico ao início (não há como conter o riso em algumas passagens), aos poucos o livro vai ganhando um toque mais sensível e culmina com uma mensagem bem mais profunda, ao final, sobre o tema vida e morte ... Diz Virgínia:
"Não me peça tal coisa, Cecil, não posso dizer-lhe nada. Pobre Sir Simon! Devo muito a ele. É isso mesmo, não ria, Cecil. Mostrou-me o que é a Vida, o que significa a Morte e por que razão o Amor é mais forte do que a Vida e a Morte." (p.60)
Ilustração de Lisbeth Zwerger (p. 35)
Este foi mais um clássico que valeu a pena conhecer e cuja leitura se tornou ainda mais agradável na indispensável edição da Berlendis & Vertecchia, pelas delicadas ilustrações da premiada artista Lisbeth Zwerger. As imagens completam o texto com um toque bastante especial. Outras aquarelas da artista podem ser vistas no blog Entre lápis e pincéis.
Mais alguns dados da obra:
Texto integral
Autor: Oscar Wilde (1854-1900 - Irlanda)
Título Original: The Canterville Ghost
Tradução e Notas de: Renata Lucia Bottini
Ilustradora: Lisbeth Zwerger (1954 - Áustria)
Editora Berlendis & Vertecchia, São Paulo, 2009, Coleção Os meus clássicos, 63 p.
Um comentário:
Obrigada pela visita e pela simpatia que teve ao mencionar o meu blog.
Um abraço.
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