quinta-feira, 10 de julho de 2008

No tribunal de meu pai - Isaac Bashevis Singer (1)

Para comentar esse livro que estou lendo de Isaac B. Singer, vou contar primeiro de onde veio a vontade de conhecer a obra desse escritor, dentre o mundão de literatura boa que ainda há para ler nesta vida.

Em um dos fóruns da internet sobre leitura, alguém comentou sobre o excelente discurso do escritor na ocasião do recebimento do prêmio Nobel de Literatura. Com assuntos de literatura, dada a dica, não é preciso muito para o bicho-curiosidade dar a sua mordida. Alguns toques nas teclas e lá estávamos nós navegando pela rede, vendo as imagens e ouvindo os sons do discurso de 1978. Um discurso realmente memorável – quanta lucidez e bom humor (tentei traduzir o texto em francês que aparece no vídeo, e depois completar ouvindo novamente o trecho em inglês - segue depois das imagens do Youtube):




E. - “Li recentemente que Sholem Ash criticou a sua obra dizendo que não era humanista, que não era moral e não contribuía para melhorar a humanidade. Como o senhor reagiu? Qual o seu papel como escritor?”
Isaac B. Singer: - “Talvez ele tenha razão, quem sabe?”

Estocolmo 1978

“Vossa Majestade, Senhoras e Senhores, as pessoas me perguntam com freqüência por que escrevo em uma língua que está morrendo. Eu gostaria de explicar em poucas palavras.

Primeiro, gosto de escrever histórias de fantasmas, e nada cai melhor para um fantasma do que uma língua que está morrendo.

Segundo, eu acredito na Ressurreição, estou certo de que o Messias vai chegar em breve... Milhões de cadáveres que falavam iídiche sairão então de suas tumbas e a primeira pergunta deles será: “Há algum livro novo para ler em iídiche?”

Eu não esperava receber o Prêmio Nobel, e quando cheguei em minha casa para o café da manhã, vi muita gente esperando com suas câmeras por ali, repórteres...
Todos eles me fizeram a mesma pergunta:
“O senhor está surpreso? Está feliz?”

Como eu não queria discutir sobre o que é a felicidade...
respondi que sim, que estava surpreso, que estava feliz... e isso durou dez ou quinze minutos, depois acalmou.

Alguns minutos mais tarde, outro repórter veio me dizer:
“O senhor está surpreso? Está feliz?”
E respondi:
“Quanto tempo um homem pode ficar surpreso? Quanto tempo um homem pode ficar feliz? Eu fiquei surpreso, fiquei feliz...
E sou o mesmo tipo pobre* que sempre fui.”

(* no áudio em inglês, o escritor usou uma palavra que não me pareceu nem inglês nem francês – nesse caso, a legenda em francês serviu de guia para a tradução, mas não fiquei muito contente com essa solução.)
E sobre o livro No tribunal de meu pai? Escolhi começar por este (ainda estou ali nas primeiras páginas) pois trata-se de um livro de memórias e, como gostei do escritor, quis saber um pouquinho mais sobre ele por ele mesmo, antes de adentrar nos seus romances como Satã em Gorai e Breve Sexta-feira que também já estão na fila de leituras.

A maneira como ele conta as histórias que se passam no tribunal rabínico que seu pai presidia é muito boa – lembra aqueles papos gostosos de contadores de causo, que a gente não se cansa de ouvir.

(continua aqui)

2 comentários:

Let´s disse...

Pa, bacana esse discurso. Gosto de ouví-los. O do Orham Pamuk tbm é muito bonito...dá um olhadinha na net. beijos

Patrícia C. disse...

Oi, Let´s!!
Puxa, tem do Orham Pamuk também?? Vou procurar, aliás outro autor que está na pilha de leituras futuras - vc já experimentou?
Um abração