terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Santô e os pais da aviação – Spacca



Com o subtítulo “A jornada de Santos-Dumont e de outros homens que queriam voar”, o álbum em quadrinhos do Spacca é fruto de uma rica pesquisa histórica que nos permite conhecer, de uma maneira muito prazerosa, os primórdios da aviação, acompanhando não só a trajetória do aviador brasileiro, mas apresentando também o que outras pessoas ao redor do mundo estavam criando na época.

A arte é ímpar – desde o roteiro até a arte final, passando pelos excelentes desenhos que transmitem muitas informações. É daquelas obras de agarrar e não querer largar até chegar ao final.

Um dos fatores que me chamam a atenção quando leio quadrinhos, principalmente os da envergadura desse trabalho, é a capacidade que a obra tem de captar nossa atenção. Isso acontece, por exemplo, quando, sem perceber, paramos em um quadrinho e ali ficamos... um bom tempo... olhando o desenho, pensando na história, no que ela transmite.

Entre tantos momentos em que isso ocorreu em Santô, destaco, para observação, a sequência da página 51, quando Sem (o caricaturista), conversando com Santos-Dumont, diz que este tem charme e o coloca no patamar de celebridade. A isso o nosso aviador rebate, afirmando, com um discurso técnico, que também sabe ser “desinteressante”. No penúltimo quadrinho dessa sequência, lê-se o que Sem aponta:
“Outros, ao contrário brilham eternamente, como os faróis e as estrelas. Brilhar é fundamental para sobreviver na cidade-luz...”
e no último quadrinho (o que chamou a atenção):

“Mas não se preocupe, Paris vai amá-lo. E esquecê-lo também... mas primeiro vai amá-lo.”

além do texto, o que entusiasmou foi o uso do efeito de contra-luz na imagem - nela vemos apenas a silhueta dos personagens. Imagem e texto muito bem integrados.
Outra cena interessante: o último quadro da página 111.
No texto:

“23 de outubro – Bagatelle. É quase meio-dia, e Santô já fez 9 tentativas, quebrou uma roda e perdeu uma pá da hélice. A comissão científica faz uma pausa para o almoço.”
Na imagem: 14 Bis bem ao fundo; na maior parte do quadro: um parque repleto de pessoas – vê-se de tudo - crianças brincando, mulheres conversando, animais, bicicletas, tudo com a ambientação da época. Se o aviador já tinha feito tantas tentativas, o restante das pessoas estava ali tranquilamente, num típico dia no parque.

Como já comentamos em outros posts sobre quadrinhos aqui no blog, o texto sozinho não diz tudo – é preciso atentar para as imagens, para a composição da cena e para a forma como o enredo é montado. Ou seja, no caso de Santô, o importante é mesmo pegar o livro nas mãos, olhar tudo, aventurando-se por ele.

O álbum conta ainda com: (i) um texto introdutório sobre o caricaturista Sem (Georges Goursat – 1863-1934) que acompanhou Santos-Dumont em algumas de suas peripécias; (ii) uma cronologia sobre o aviador brasileiro e outros pioneiros da aviação; (iii) uma bibliografia para quem quiser pesquisar mais sobre a matéria, incluindo sites da internet; e (iv) uma galeria com alguns esboços ( aqui uma crítica - é uma pena que só haja duas páginas! ).

Dentre as dicas de sites que constam da bibliografia, vale dar uma olhada no que contém desenhos do Hergé (o pai do Tintin) sobre o tema.


Outros dados da obra:
Título: Santô e os pais da aviação: a jornada de Santos-Dumont e de outros homens que queriam voar.
Autor: Spacca (Para conhecer mais sobre o Spacca e seu trabalho, visite o site dele, clicando aqui)
Ano da publicação: 2005
Edição lida: São Paulo: Companhia das Letras, 2006. 160 p.


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