Sábado, 17 de janeiro, um dia nublado e não muito quente em São Paulo.
Atraída pela mostra de Candido Portinari (1903-1962), fui visitar mais uma vez o Museu de Arte de São Paulo - MASP. Lá estão em exposição onze telas das séries Bíblica (8) e Retirantes (3) desse expressivo pintor brasileiro.
As telas estão no subsolo - e o impacto é forte - já podemos vê-las ao descer as escadas. São telas grandes por volta de 1,80 a 2,00 metros. Como o meu conhecimento sobre arte não é profundo, vou comentar algumas delas levando em conta as impressões que tive ao olhá-las, ao admirá-las de perto, de longe, por bastante tempo.
As imagens da série Bíblica foram feitas em têmpera - tons de cinza, cinzas azulados, com fortes influências de Picasso, como o próprio pintor deixou registrado. São todas impressionantes pela força, pela emoção que transmitem. Duas chamaram-me mais a atenção:
Em A Ressurreição de Lázaro (154 X 301 cm, 1944), vemos duas imagens em primeiro plano: Lázaro ainda com a mortalha no rosto, ajoelhado, em posição de quem vai se levantando; e uma mulher, mãos postas, chorando. Ao fundo, uma outra mulher, assustada. As mãos e os pés imensos reforçam a dramaticidade do momento. Tons de cinza azulado, recortes de luz diagonais, poucos toques de vermelho nas unhas, ressaltam as posições e a expressividade das imagens. A sensação é de que algo assombroso está realmente se passando - na tela, conosco.
Em O pranto de Jeremias (189 X 179 cm, 1944), os olhos da imagem prendem os nossos - grossas lágrimas, volumosas, parecendo pedregulhos, rolam pela face de Jeremias. Os detalhes estilizados da anatomia, de novo as mãos e pés imensos garantem o impacto e emoção, a sensação de lamentação da imagem.
Como já comentamos, é muito difícil tentar, com palavras, descrever o que se vê... quase impossível talvez...
Da série Retirantes, as três telas que estão na mostra: Retirantes, Criança Morta e Enterro na Rede já as tinha visto em reproduções. Mas as reproduções não conseguem mostrar, não conseguem transmitir a arte que realmente está no original: a luminosidade, a força das cores, a textura, as dimensões, tudo isso se perde. Ver os originais é algo incrível.
A tela Retirantes (1944), por exemplo. Mede 192 X 181 cm e foi pintada a óleo. As cores são vibrantes, o contraste que Portinari conseguiu imprimir nas imagens faz com que os personagens pareçam ganhar volume contra o cenário desolado. São azuis, verdes, rosas, vermelhos combinados. O que impressionou bastante nessa tela foi o bebê no colo da mãe esquálida, as dobras do pano que o envolve parecendo as magras costelas da mãe.
Com bem diz Drummond,
"Candinho vem sorrindo, calça azul, sapatos roxos ou verdes, camisa branca de meia manga, e diz: 'Ah, é Drummond'. A sala abre-se ao fim do pequeno corredor. De lá vêm luzes e vozes. Paro à entrada, atordoado. Cores e formas se propõem subitamente, com violência à minha percepção. São figuras que se espalham pelas paredes [...]" ("Estive em casa de Candinho", In: Confissões de Minas, Carlos Drummond de Andrade. Poesia e Prosa, p. 1354).
Para ter uma ideia dessas telas de Portinari, é só acessar a página do Masp, clicando aqui. Mais algumas imagens de outras obras do pintor aqui.
Portinari nasceu em Brodósqui (Brodowski), cidade no interior de São Paulo. Lá existe hoje um museu com utensílios, desenhos e telas do pintor - A Casa de Portinari.
Atualização do post em 26 de março de 2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário